quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O McDonalds e o Papa

Estou em Genebra. Em geral, quando estou em outro lugar, procuro provar um pouco do que representa a gastronomia local. Mas Genebra consegue ser tão cosmopolita que o que vejo são restaurantes asiaticos, árabes, portugueses, italianos, mas nada que represente a culinaria suiça (e não me vejo jantando fondue). Assim sendo, e perdoem-me os seguidores da causa anti-imperialista, para não desgastar meus cansados neuronios depois de atravessar o oceano, fui parar no McDonalds.

Eu, que em minha própria cidade entro neste “restaurante” para casos de emergencia (e não falo de fome), fui ao obvio. No entanto, o que observo é a genialidade comercial dessa rede alimentar. Quando estive na India, um dia antes de partir estava só em Mumbai e após quase très semanas do melhor da incrivelmente diversificada culinaria indiana (eles são capazes de fazer uns 30 pratos diferentes com os mesmos tres ingredientes), também fui ao McDonalds. Pois bem, lá vender carne de vaca não é visto com bons olhos e assim sendo, o ‘Número 1’ é o McMaharajah, um hamburguer duplo de carne de frango apimentado, como 99,99% da comida indiana. Adaptação é lei e assim, aqui em Genebra comi um McZurich, que nada mais é que um hamburguer que leva pedaços de champignon... e nada mais... tão criativo como é a representação gastronômica suiça em Genebra.

Em seguida, resolvi aproveitar o resto da noite em um cinema. O jornal de terça anunciava o novo filme de Almodovar num cinema na região mas quando cheguei, o filme era outro e o horario da sessão não era conveniente. Fui a outro cinema ao lado da estação de trem e o filme que melhor casava com a hora era um italiano chamado “Habemus Papam”. Eu nada sabia do filme, mas resolvi arriscar ao ver que o diretor era Nino Moretti. Uma surpresa incrível. Não há nada melhor que ver um filme sem a menor expectativa e sair com ele na cabeça. O filme trata basicamente da eleição de um novo Papa, claramente baseada na comoção que esse momento gera em todo o mundo católico apostólico romano. É dificil contar a história daqui em diante, pois cada momento do filme traz algo inesperado. Mas fala do que é representar um papel, do que realmente ele representa e o que deveria representar, além de questões individuais de quem o representa. Um filme deliciosamente italiano, envolto de um pouco de comédia sobre o drama humano e cheio de reflexões. Por conta da situação, cardeais, e outros envolvidos na trama, não podem ter contato com o exterior e procuram maneiras especiais de passar o tempo. Uma farsa é montada. Tudo é teatro.

Engolimos papeis representados como comemos um hamburguer do McDonalds. O Papa é pop, segundo os Engenheiros do Havai, que na verdade vinham do sul. O McDonalds também. Ambos satisfazem alguma necessidade, uma necessidade que satisfazemos quando não encontramos outra resposta ou quando refletir não vale o esforço. Mas se quiser provocação para a reflexão, eu recomendo o filme, mas não o BigMac.