domingo, 25 de janeiro de 2015

Quando Sampa faz anos

Não estou em São Paulo, cidade onde nasci, cresci, me criei e me malcriei. Essa megalópole que abriga bem (ou nem tão bem) mais de 10 milhões de pessoas de tribos distintas e que fazem dela um lugar que eu considero deliciosamente cosmopolita, hoje completa 461 anos de fundação.
Estou na África, numa cidade mais de 9 mil quilómetros de distância de São Paulo. Aqui, a cidade mal começava a erguer seus primeiros prédios símbolos de um esperado progresso e desenvolvimento quando uma crise dividiu o país e mudou os planos. Uma realidade muito diferente, mas como já aconteceu outras vezes, a gente vai se adaptando, descobrindo o que é possível fazer e como bons seres sociais que somos, procurar atividades prazerosas em grupo, seja em algum restaurante frequentado por tantos outros que se debandam de suas cidades natais, seja no espaço em que vivemos.
Mas a vontade é de falar do lugar de onde eu vim. Há algum tempo já escrevi sobre isso e sei que pode parecer repetitivo, mas escrever consiste basicamente em falar de algo que se tem vontade, a não ser que sejamos pagos para atender demandas de outrem, o que não é o meu caso.
Passei 20 meses em outra cidade, no Rio de Janeiro. Historicamente, sabe-se, paulistanos e cariocas disputam o posto da cidade mais bacana. Eu aprendi a gostar de muitas coisas no Rio, embora muitas vezes fosse capaz de trocar uma ida à praia por uma boa caminhada na Avenida Paulista. A verdade é que não se deveria comparar uma cidade à outra. São duas almas distintas, com suas particularidades, características e jeitos de cada um. No Rio, tentei adequar-me ao espírito mais sambista, fiz aulas de samba, fui a rodas de samba, fui ver Paulinho da Viola, Monarco e a Velha Guarda da Portela... Madureira. Não creio que tenha tido grande sucesso, pois o que me toca mesmo a alma e o corpo é uma boa bateria, guitarra, baixo e Rock’n Roll.  
Quando voltei à São Paulo no meio de dezembro do ano passado, foi uma sensação de volta à casa, ainda que eu não tivesse uma propriamente minha. Embora eu tenha feito bons amigos no Rio, aqueles bons e velhos de sempre ali estavam, estava a família, estavam as ruas que conheço, o jeito de ser de cada bairro, o movimento das ruas concretas do centro cantadas por Caetano em “Sampa”, da mistura de gente entre a Paulista e a Augusta, dos grafites. Eu sou um bicho urbano, não tem jeito. Gosto disso tudo e praia, gosto daquelas lindas e tranquilas do Litoral Norte do Estado dessa mesma São Paulo. No entanto, jamais deixarei de ser grata pela acolhida de braços abertos para a Guanabara.
Antes de deixar mais uma vez essa São Paulo que hoje tristemente morre de sede, sabia que a estava deixando para voltar em breve, mesmo que um ano depois, porque essa partida também faz parte do que se há para construir ao retornar. E mesmo que outras idas possam ainda acontecer, a volta para casa é certa e hoje eu sei onde ela é. 

Feliz Aniversário, São Paulo!