Algumas noites
atrás, eu estava em um lugar onde o calor era tanto que era impossível dormir.
Mas dormir era preciso, pois o dia seguinte seria cheio de coisas para fazer.
Ali, onde uma pista de terra recebeu o avião de onde apenas via-se casinhas de
palha e terra batida, os chamados tukuls, vacas e bois usados como moeda de
troca e terra a perder de vista. Árvores, poucas nessa paisagem árida.
Eu tentava dormir
em um desses tukuls, quando num espírito de «vou tentar contar carneirinhos »
resolvi, ao invés disso, contar quantas nacionalidades conheci em minhas
andanças. Era ao mesmo tempo um bom exercício mental de geografia. Percorri
mentalmente os continentes e ia contando. Comecei pela América do Sul, fui
subindo até a América do Norte, passei pela Europa, uma passagem pela Ásia e
Oceania e por fim a África. Cheguei a 105 nacionalidades diferentes. Não contei
antilhas, territórios ultramarinos e afins, pois de certa forma estes, de
alguma maneira, seriam nacionais do país aos quais estão ligados. Cheguei perto
do número correto, pois assim que tive a oportunidade, chequei a lista na
internet e em realidade conheci pessoas de 116 nacionalidades distintas até
agora.
A lista da ONU
fala em 193 países. Ao menos 77 pessoas por aí que eu ainda não conheci,
portanto. Coloquei meus pés em 32 desses países e obviamente, não estou
contando aeroportos. A conta vale para aqueles onde pude caminhar em suas ruas.
Desde sempre fui
fascinada pela ideia de viajar. Por um período consideravel de minha vida, isso
ficou só no desejo. Ainda assim, até 2008, ano em que comecei a fazer o
trabalho que faço hoje, passei por 6 países. Bom, dois deles, Paraguai e
Argentina, graças a uma excursão à Foz do Iguaçu e eu achava incrível a idéia
de que ao passar por uma rua ou uma ponte, já estava-se em território
estrangeiro.
Por
conta do trabalho atual, estive em lugares que antes nem sabia localizar no
mapa. Vi gente vestida diferente, falando linguas que jamais aprendi, comendo
diferente, em paisagens tão diferentes que não havia absolutamente nada que me
fizesse recordar meu próprio chão. Também chorei ao ver-me cara a cara com o
Taj Mahal, que admirava na foto de capa de um livro sobre as maravilhas do
Mundo.
Ainda assim, levei
30 anos para realizer um sonho de adolescente, conhecer Londres. Isso foi só no ano passado. Quando o avião
se aproximava do aeroporto, pude ver o Tâmisa, Big Ben, a London Tower, prédios
de vidro novos contrastando com o antigo. Mal respirava. Em
terra, tantos nomes de estações de metrô incrivelmente familiares. Voltei a ser adolescente. E pensei que tanta
coisa aconteceu entre o sonhar e o realizar, que dei tantas voltas pelo mundo
antes de resgatar um sonho antigo. Nas centenas de pessoas que passaram como
personagens de mil histórias, nas que ficam.
E que com tudo
isso, o que desejo mesmo é, em algum momento, sossegar essas raízes que tanto
voam em um chão meu, onde eu possa compartilhar o que ficou com quem ficar pra
ver. E com quem mais aparecer, é claro !