quarta-feira, 8 de julho de 2015

Ai que pão!


Acabo de descobrir que hoje é o dia do padeiro. A coisa é que isso me leva ao mesmo tempo ao passado, ao presente e ao futuro. Ao passado, porque me fez lembrar da padaria perto de onde eu morava quando era criança. Eram três donos, Seu Geraldo, um brasileiro engraçado (ao menos enquanto criança, eu achava), Seu Genaro, um italiano muito mal humorado que por conta disso acabou ganhando varios posters de candidatos políticos colados no carro pelos meninos da rua em que eu morava e o Seu Antônio, um português super educado que sempre dava uma balinha à mais às crianças que iam buscar os pãezinhos a pedido dos pais.  Incrível eu ainda lembrar os nomes. Coisas daqueles dias em que ir à padaria parecia ser tão bom quanto ira o Shopping. O nome da padaria era Flor de « alguma cidade portuguesa », como eram os nomes de todas as padarias de São Paulo, como Flor de Évora, Flor do Minho, Flor de Lisboa.

Hoje as padarias ficaram mais gourmets, como a Bella Paulista, a Galeria dos Pães, Saint Étienne, mas é também resultado de um aprimoramento em um dos comercios que mais fazem parte da vida dos paulistanos e hoje algumas são quase um supermercado. Mas ainda pode-se encontrar aquelas de simplesmente recostar no balcão e pedir um pingado acompanhado de um pão na chapa.

Eu pessoalmente adoro padarias. Quando estive um ano fora depois da minha primeira missão e sabendo que chegaria bem de manhazinha, eu tinha um único desejo : ir à padaria para comer um bom pão na chapa com aquela crosta crocante e aquele miolo macio e tomar um suco de laranja feito na hora. Ouvir aquelas máquinas de ferver água e fazer café, o burburinho dos clientes, do café com leite servido num copo americano, da dose de pinga logo de manhã para quem precisa, o liquidificador a fazer vitaminas para quem busca energia para metade do dia. A fila para comprar o pão e ainda levar um sonho recheado com aquele creme de baunilha estupidamente calórico. 

Poderia passar horas relatando recordações da padaria da minha infância, mas aquela padaria já não existe há muito tempo, assim como mil outras coisas foram acontecendo desde então e muitas outras padarias foram adotadas como cenário de outros instantes alimentados por pães na chapa, misto-quente e outras variações tendo o pão como elemento principal da composição padoco-gastronômica.

Veja bem, com exceção àqueles intolerantes ao glúten e aos que estão no meio de alguma dieta radical, o pão faz parte da vida de qualquer mortal. Pelos países que tenho andado, lá está ele, em todas formas e modelos : fofinhos, duros, redondos, achatados, com fermento, sem fermento, até com areia eu ja encontrei, pois a proximidade com o deserto fazia com que grãos de areia misturassem-se sorrateiramente com a farinha. E lembro-me quando estive no Senegal da deliciosa surpresa de encontrar num restaurante um pãozinho que era simplesmente igualzinho àquele da padaria da esquina. E é claro, das boulangeries francesas, que definitivamente mostram que chamarmos nosso querido pãozinho de pão francês é quase uma afronta.

E da primeira vez que pedi um sanduiche de queijo no Sul, o homem me perguntou : « No cacete ? ». Levei alguns segundos para lembrar que pãozinho no Sul é cacete ou cacetinho e assim evitar de dar-lhe um tapa na cara.

Em poucos dias, faço o caminho inverso de tantos donos de padaria que deram a elas o nome de suas cidades deixadas para trás. Estes sim foram sábios, pois sabiam que podia até faltar muita coisa à mesa, mas pão, jamais ! E vereremos que histórias tendo as padarias de lá como cenário virão.  Deu vontade de comer pão.