sábado, 16 de julho de 2011

Ah, Paris!!!

Comecei a escrever enquanto o avião sobrevoava o imenso chão de areia que é o Deserto do Saara no dia que deixava Paris de volta aos ossos do oficio no meio da Africa enquanto eu ouvia uma pequena seleção des chansons françaises desejando ter podido ficar mais. Ter ido para uma formação de 10 dias me obrigou a aproveitar o resto do dia para explorar a Cidade Luz, que com o verão só liga as luzes depois das 22h.

Ah Paris... foi minha primeira vez em suas ruas. Em meu primeiro dia, estava aproveitando já o que restava do dia para caminhar a partir da Bastille. Mapa na mão, logo se aprende que o Sena te magnetiza e te prende pelo seu percurso. A Notre Dame estava ali mais adiante e é verdade que é também temporada de turistas. A cada passo, uma língua. A cada monumento, uma fila. Dado o pouco tempo, escolhi passar-lo a andar pelas ruas e ruelas parisienes a estar enfileirada. Andei por ali, me sentei num parque ao lado de onde Quasimodo morreu de amores por Esmeralda com meu primeiro sanduiche parisiense enquanto um casal menos famoso buscava alguém que lhes tirasse uma foto num inglês de colégio. Acontece que o casal era brasileiro e eu fiz minha primeira gentileza. O primeiro gosto pela cidade foi lançado e já era hora de voltar ao hotel, pois o dia se havia resumido em uma noite inteira de viagem (após um dia inteiro forçado em Nairobi por perda da conexão = um dia a menos em Paris), corrida para conseguir fazer aeroporto – hotel – formação até 18h30 – hotel – rua = cansaço.

Meu esquema de turismo após o dia de curso ganhou adesões e no segundo dia eu tinha a companhia de uma grega e um espanhol, todos falando um francês nada exemplar, embora me encha de orgulho em pensar que há 14 meses eu não passava do “bonjour, je m’appelle Julia” sem conseguir entender nem aqueles diálogos superbásicos de curso de línguas do tipo “olá, eu tenho uma bola, ela é vermelha” e que ali eu estava em Paris para uma formação toda em francês numa boa.

Pois bem. Paris lembra Torre Eiffel e lá fomos nós, num metrô de dois andares que passao ao longo do Sena. Das escadarias que dão para a rua já se via o maior símbolo da França e sem dúvida um dos mais emblemáticos de todo o mundo. No caso, ela quase teve que concorrer com a atenção que criava um casal de asiaticos (japoneses talvez?) vestidos em roupas de casamento fazendo pose com a ajuda de um suposto fotógrafo profissional e seu assistente. A noiva montava em um carrossel enquanto o assistente tentava simular uma saia esvoaçante e o noivo segurava a mão de sua amada para que o fotógrafo pudesse flagrar esse momento tão ‘espontaneo’ com a Torre Eiffel ao fundo. Tenho que dizer que o casal não mediu esforços para guardar recordações em um cenario cheio de romance. E antes que alguém queira saber se eu subi na Torre, o tema “fila” responde, em especial uma que apontava duas horas de espera.


Mais caminhada ao longo do Sena, na altura da Place de la Concorde, o que também me faz lembrar que temos alguns pontos em São Paulo com inspirações parisienses, como o largo da Concórdia, Campos Elíseos de Champs Elisées, Campo de Marte de Champ de Mars (o que não transforma São Paulo em Paris), tomamos o metro rumo à Belleville, para terminar a noite num restaurante francês gerido por um descolado casal chines. Os chineses definitivamente tem certo poder de apropriação de conhecimento.

A ida a Montmatre no outro dia ganhou a adesão também de uma suiça. A caminhada desde a estação Gare du Nord até nosso objetivo mostra algumas nuances socio-econômicas. A região próxima à estação è povoada por imigrantes, enquanto as ruas de Montmatre são habitadas evidentemente por seres com certa bufunfa. Ponto alto da cidade, na frente da Sacre Coeur se pode ter uma vista privilegiada de Paris, desde que alguma cabeça turística não se meta na sua frente. E como o dia não podia terminar sem algo inusitado, fomos comer em um restaurante (mal) escolhido por estar menos cheio (geralmente não é bom sinal), onde um garçom, talvez indiano, não comprendia o que pedíamos, ainda que o fizéssemos em inglês. Resolvi me arriscar na cidra que era terrível e o que comi não foi nada memorável, mas é uma daquelas situações que vale mais pelo inusitado que pelo esperado.

E estar durante o verão em Paris é como ser sexta feira todos os dias. Os bares e restaurantes estão invariavelmente lotados até tarde não importa o dia da semana. E que coisa insuportavel, para todo o lado que você vá, independente do bairro, a gente se depara com uma série de bares, bistrôs e restaurantes extremamente charmosos. Realmente não importa onde, sempre haverá algum lugarzinho bacana para parar, desde que exista alguma mesinha livre para realizar aquele velho sonho de estar em Paris e sentar-se tranquilamente num bistrô de esquina como se vê nos filmes.

Falando em filmes, um dos grandes momentos mágicos foi ver “Meia Noite em Paris”, o último do Woody Allen que retrata com seu jeito único a atmosfera parisiense de hoje, dos anos 20, da Belle Epoque, faça chuva ou faça sol. E como se não bastasse se deliciar com o retrato feito pelo psicanalitiquizado diretor, sair do cinema e continuar tendo Paris na sua frente foi uma das vivências mais extraordinárias da minha vida.

O meu amor ao cinema me levou à Cinemathèque Française, o que daria um capítulo à parte só para falar da minha emoção em ter ido à exposição em homenagem à Kubrick e ver o machado usado por Jack Nicholson no filme Shinning, os vestidos das meninas gemeas do mesmo filme, a roupa original do figurino de Laranja Mecânica, aquela do chapeu preto, a roupa branca e a bengala, o capacete espacial de 2001 e a roupa do macaco do começo do filme, as máscaras de "De Olhos bem fechados", só pra falar de alguns objetos. Além dos roteiros com anotações à mão feitas por esse incrível diretor. Demais, demais!!!

Meus dias parisienses tiveram direito à pique-nique no Parque de la Villete, com cammembert, cervejas diversas, salcisson com um ótimo baguete, passeio num enorme mercado de pulgas ao norte, longas caminhadas pelas ruas de Marais, um dos bairros que mais respeitam a diversidade no mundo, as lojas finas de Saint Germain (ver é de graça) e a região das galerias de Arte para todos os gostos.

Parti de Paris neste 14 de Julho, dia em que se comemora a tomada Bastilha, a verdadeira festa nacional que ficou para trás enquanto o avião seguia para outro continente. Mas eu volto!