domingo, 8 de março de 2015

Falta...

Hoje escrevo por simples necessidade de escrever. Escrever para preencher os milhares de quilômetros que me distanciam de minhas raízes. Porque sim, por mais que essas raízes voem, elas tem se mostrado cada vez mais necessitadas de repousar em terra firme.
Quando estamos longe,  as pessoas se habituam, seguem suas vidas, criam novas histórias onde quem foi acaba quase que inevitavelmente ficando fora dela. Afinal, pensar que alguém distante poderia continuar ali, seria quase como aquela imagem do lugar vazio à mesa.
Por outro lado, o desejo de quem parte é voltar e encontrar tudo igual, como se o mundo tivesse parado e esperado por você. Obviamente, quase como parte da lição de casa, a gente aprende que não é assim.
Você se transforma em alguém que passa para dar um oi de vez enquando. Durante nossas vidas, pessoas vem e vão, algumas ficam, outras não. Quando opta-se por trabalhar longe, é tudo isso, mas de maneira muito mais acelerada. E com tantas pessoas que vem e vão em tão pouco tempo, sem que exista um processo mais intenso de ligação e afeto, o pensamento volta-se àquelas pessoas com às quais as relações puderam estreitar-se com muito mais qualidade.
Pensa-se na família, nos sobrinhos que vão crescendo e aprendendo coisas novas independente de você estar lá ou não, no que cada pessoa vai construíndo enquanto você está fora. Pensa-se nos amigos feitos em diversos momentos, naquela faculdade, naquele curso, nos feitos graças à tecnologia mas cujas afinidades permitiram que a amizade transpassasse a tela. Pensa-se no que cada um está fazendo e se volta e meia eles se lembram de você.
Em dias nos quais o quotidiano distinto de onde você está não permite explorar a cidade, limita pequenos prazeres e exige muita adaptação às condições de vida, a filosofia budista de pensar na felicidade no que é o nosso aqui e agora acaba disputando espaço num pensamento que viaja até onde a felicidade está em pegar um cinema e imaginar com quais desses amigos seria. Talvez porque uma boa neurótica volta e meia sofre pela falta, enfim.
Muitas vezes, você comemora quase que solitariamente a riquesa de suas experiências, sorri só e se deslumbra com elas e também se revolta com muita coisa que ve, mas lamenta a dificuldade em compartilha-las. Principalmente porque sabe que você se dispos a viver isso. E que a curiosidade de familiares e amigos pode ser satisfeita até o limite individual de cada um.
Daí você pensa que na verdade tem tanta coisa pra contar e poderia escrever um livro e enquanto isso atem-se a um blog, onde se promete que vai falar das coisas banais do dia a dia, das comidas diferentes, daquela viagem pelo Nilo, de momentos até divertidos de nossa capacidade de adaptação.

Mas quando se dá conta, tudo o que quer dizer é que às vezes tem muita vontade de voltar, que tem saudades e que espera ter aquele lugar à mesa, ir ao cinema, fazer falta aos amigos como eles fazem falta para você.  Ah, a falta outra vez!