sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Mais 4 semanas e c'est fini

Embora aqui onde eu estou não tenha visto até agora um pinheirinho decorado de bolinhas coloridas sequer, uma árvore enfeitada que seja, já que árvores não faltam pra essas bandas, aquele frisson natalino ja vai encostando no povo.

Muitos colegas deixarão este país encravado no coração do continente africano para curtir as festas de fim de ano em suas casas, a ver a neve cair do lado de fora (a maioria vem do velho continente), jingle bells e tal. Outros poucos chegarão um pouco antes para ter a experiencia de dividir essa data com um bando de outros seres àvidos por não deixar passar em branco o dia em que aquele velhinho barbudo ganhou uma roupa vermelha de uma certa empresa gringa de refrigerantes. Ok, também se comemora o nascimento de um outro barbudo, embora se saiba que a data foi atribuída por um cara do meio clerical ha muuuuuuito séculos atrás e não é portanto a data real de nascimento deste que considero um grande revolucionário pela justiça social em seu tempo. Deixo as tintas religiosas para quem assim o prefira.

Eu, particularmente, prefiro a passagem de ano. Embora possamos nos esforçar a pensar que é apenas uma mudança de data como qualquer outra, a idéia de mais um ciclo que começa permite uma certa renovaçao de energias, de revisão de projetos para realização de sonhos nascidos em outros anos.

O ano de 2011 vai terminando e até que foi um ano diferente. Aliás, depois que comecei com essa história de dedicar-me ao trabalho humanitário, é dificil ter um panorama claro de como vai ser o ano, pois sempre se vai a lugares novos, desconhecidos, trabalhos e desafios ímpares, pessoas de todos os cantos do mundo farão parte da cena, alguns continuarão a fazer parte de nossas vidas ainda que nos despidamos fisicamente em algum ponto. Enfim, 2011 foi assim. Vim para ficar três meses, no total ficarei dez. Começarei o ano de 2012, aquele que os Maias afirmaram será o fim do mundo, com os pés na Africa. Comecei 2011 com os pés na cobertura de um edificio na região mais paulista da capital paulista, a Avenida Paulista. Comecei portanto 2011 dentro do que é a essencia de minha urbanidade paulistana, com direito à voltar para casa de metrô às 6 da manhã, cruzando com uma imensidão de gente voltando também de suas comemorações, vivendo o movimento de uma cidade que não para nunca. Terminarei o ano de 2011 num contexto bem diferente, em nosso compound com uma boa dose de criatividade para preparar a ceia, já que aqui não basta dar uma passadinha naquele supermercado 24 horas para comprar aquele ingrediente que falta.

Estarei com uns quinze colegas, cada um com seus costumes e nisso vamos ver no que dá. No fundo é esse o grande atrativo. As festas de fim de ano terão um pouco de cada um e esta será a grande riqueza da festa.

Ah sim, as pessoas daqui no dia de Natal irão à igreja, depois se reunirão em família e comerão uma refeiçao especial. Não é tão diferente assim. Só não tem a coisa de trocar presentes. Afinal, isso é coisa de quem inventou o shopping center.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O McDonalds e o Papa

Estou em Genebra. Em geral, quando estou em outro lugar, procuro provar um pouco do que representa a gastronomia local. Mas Genebra consegue ser tão cosmopolita que o que vejo são restaurantes asiaticos, árabes, portugueses, italianos, mas nada que represente a culinaria suiça (e não me vejo jantando fondue). Assim sendo, e perdoem-me os seguidores da causa anti-imperialista, para não desgastar meus cansados neuronios depois de atravessar o oceano, fui parar no McDonalds.

Eu, que em minha própria cidade entro neste “restaurante” para casos de emergencia (e não falo de fome), fui ao obvio. No entanto, o que observo é a genialidade comercial dessa rede alimentar. Quando estive na India, um dia antes de partir estava só em Mumbai e após quase très semanas do melhor da incrivelmente diversificada culinaria indiana (eles são capazes de fazer uns 30 pratos diferentes com os mesmos tres ingredientes), também fui ao McDonalds. Pois bem, lá vender carne de vaca não é visto com bons olhos e assim sendo, o ‘Número 1’ é o McMaharajah, um hamburguer duplo de carne de frango apimentado, como 99,99% da comida indiana. Adaptação é lei e assim, aqui em Genebra comi um McZurich, que nada mais é que um hamburguer que leva pedaços de champignon... e nada mais... tão criativo como é a representação gastronômica suiça em Genebra.

Em seguida, resolvi aproveitar o resto da noite em um cinema. O jornal de terça anunciava o novo filme de Almodovar num cinema na região mas quando cheguei, o filme era outro e o horario da sessão não era conveniente. Fui a outro cinema ao lado da estação de trem e o filme que melhor casava com a hora era um italiano chamado “Habemus Papam”. Eu nada sabia do filme, mas resolvi arriscar ao ver que o diretor era Nino Moretti. Uma surpresa incrível. Não há nada melhor que ver um filme sem a menor expectativa e sair com ele na cabeça. O filme trata basicamente da eleição de um novo Papa, claramente baseada na comoção que esse momento gera em todo o mundo católico apostólico romano. É dificil contar a história daqui em diante, pois cada momento do filme traz algo inesperado. Mas fala do que é representar um papel, do que realmente ele representa e o que deveria representar, além de questões individuais de quem o representa. Um filme deliciosamente italiano, envolto de um pouco de comédia sobre o drama humano e cheio de reflexões. Por conta da situação, cardeais, e outros envolvidos na trama, não podem ter contato com o exterior e procuram maneiras especiais de passar o tempo. Uma farsa é montada. Tudo é teatro.

Engolimos papeis representados como comemos um hamburguer do McDonalds. O Papa é pop, segundo os Engenheiros do Havai, que na verdade vinham do sul. O McDonalds também. Ambos satisfazem alguma necessidade, uma necessidade que satisfazemos quando não encontramos outra resposta ou quando refletir não vale o esforço. Mas se quiser provocação para a reflexão, eu recomendo o filme, mas não o BigMac.

sábado, 16 de julho de 2011

Ah, Paris!!!

Comecei a escrever enquanto o avião sobrevoava o imenso chão de areia que é o Deserto do Saara no dia que deixava Paris de volta aos ossos do oficio no meio da Africa enquanto eu ouvia uma pequena seleção des chansons françaises desejando ter podido ficar mais. Ter ido para uma formação de 10 dias me obrigou a aproveitar o resto do dia para explorar a Cidade Luz, que com o verão só liga as luzes depois das 22h.

Ah Paris... foi minha primeira vez em suas ruas. Em meu primeiro dia, estava aproveitando já o que restava do dia para caminhar a partir da Bastille. Mapa na mão, logo se aprende que o Sena te magnetiza e te prende pelo seu percurso. A Notre Dame estava ali mais adiante e é verdade que é também temporada de turistas. A cada passo, uma língua. A cada monumento, uma fila. Dado o pouco tempo, escolhi passar-lo a andar pelas ruas e ruelas parisienes a estar enfileirada. Andei por ali, me sentei num parque ao lado de onde Quasimodo morreu de amores por Esmeralda com meu primeiro sanduiche parisiense enquanto um casal menos famoso buscava alguém que lhes tirasse uma foto num inglês de colégio. Acontece que o casal era brasileiro e eu fiz minha primeira gentileza. O primeiro gosto pela cidade foi lançado e já era hora de voltar ao hotel, pois o dia se havia resumido em uma noite inteira de viagem (após um dia inteiro forçado em Nairobi por perda da conexão = um dia a menos em Paris), corrida para conseguir fazer aeroporto – hotel – formação até 18h30 – hotel – rua = cansaço.

Meu esquema de turismo após o dia de curso ganhou adesões e no segundo dia eu tinha a companhia de uma grega e um espanhol, todos falando um francês nada exemplar, embora me encha de orgulho em pensar que há 14 meses eu não passava do “bonjour, je m’appelle Julia” sem conseguir entender nem aqueles diálogos superbásicos de curso de línguas do tipo “olá, eu tenho uma bola, ela é vermelha” e que ali eu estava em Paris para uma formação toda em francês numa boa.

Pois bem. Paris lembra Torre Eiffel e lá fomos nós, num metrô de dois andares que passao ao longo do Sena. Das escadarias que dão para a rua já se via o maior símbolo da França e sem dúvida um dos mais emblemáticos de todo o mundo. No caso, ela quase teve que concorrer com a atenção que criava um casal de asiaticos (japoneses talvez?) vestidos em roupas de casamento fazendo pose com a ajuda de um suposto fotógrafo profissional e seu assistente. A noiva montava em um carrossel enquanto o assistente tentava simular uma saia esvoaçante e o noivo segurava a mão de sua amada para que o fotógrafo pudesse flagrar esse momento tão ‘espontaneo’ com a Torre Eiffel ao fundo. Tenho que dizer que o casal não mediu esforços para guardar recordações em um cenario cheio de romance. E antes que alguém queira saber se eu subi na Torre, o tema “fila” responde, em especial uma que apontava duas horas de espera.


Mais caminhada ao longo do Sena, na altura da Place de la Concorde, o que também me faz lembrar que temos alguns pontos em São Paulo com inspirações parisienses, como o largo da Concórdia, Campos Elíseos de Champs Elisées, Campo de Marte de Champ de Mars (o que não transforma São Paulo em Paris), tomamos o metro rumo à Belleville, para terminar a noite num restaurante francês gerido por um descolado casal chines. Os chineses definitivamente tem certo poder de apropriação de conhecimento.

A ida a Montmatre no outro dia ganhou a adesão também de uma suiça. A caminhada desde a estação Gare du Nord até nosso objetivo mostra algumas nuances socio-econômicas. A região próxima à estação è povoada por imigrantes, enquanto as ruas de Montmatre são habitadas evidentemente por seres com certa bufunfa. Ponto alto da cidade, na frente da Sacre Coeur se pode ter uma vista privilegiada de Paris, desde que alguma cabeça turística não se meta na sua frente. E como o dia não podia terminar sem algo inusitado, fomos comer em um restaurante (mal) escolhido por estar menos cheio (geralmente não é bom sinal), onde um garçom, talvez indiano, não comprendia o que pedíamos, ainda que o fizéssemos em inglês. Resolvi me arriscar na cidra que era terrível e o que comi não foi nada memorável, mas é uma daquelas situações que vale mais pelo inusitado que pelo esperado.

E estar durante o verão em Paris é como ser sexta feira todos os dias. Os bares e restaurantes estão invariavelmente lotados até tarde não importa o dia da semana. E que coisa insuportavel, para todo o lado que você vá, independente do bairro, a gente se depara com uma série de bares, bistrôs e restaurantes extremamente charmosos. Realmente não importa onde, sempre haverá algum lugarzinho bacana para parar, desde que exista alguma mesinha livre para realizar aquele velho sonho de estar em Paris e sentar-se tranquilamente num bistrô de esquina como se vê nos filmes.

Falando em filmes, um dos grandes momentos mágicos foi ver “Meia Noite em Paris”, o último do Woody Allen que retrata com seu jeito único a atmosfera parisiense de hoje, dos anos 20, da Belle Epoque, faça chuva ou faça sol. E como se não bastasse se deliciar com o retrato feito pelo psicanalitiquizado diretor, sair do cinema e continuar tendo Paris na sua frente foi uma das vivências mais extraordinárias da minha vida.

O meu amor ao cinema me levou à Cinemathèque Française, o que daria um capítulo à parte só para falar da minha emoção em ter ido à exposição em homenagem à Kubrick e ver o machado usado por Jack Nicholson no filme Shinning, os vestidos das meninas gemeas do mesmo filme, a roupa original do figurino de Laranja Mecânica, aquela do chapeu preto, a roupa branca e a bengala, o capacete espacial de 2001 e a roupa do macaco do começo do filme, as máscaras de "De Olhos bem fechados", só pra falar de alguns objetos. Além dos roteiros com anotações à mão feitas por esse incrível diretor. Demais, demais!!!

Meus dias parisienses tiveram direito à pique-nique no Parque de la Villete, com cammembert, cervejas diversas, salcisson com um ótimo baguete, passeio num enorme mercado de pulgas ao norte, longas caminhadas pelas ruas de Marais, um dos bairros que mais respeitam a diversidade no mundo, as lojas finas de Saint Germain (ver é de graça) e a região das galerias de Arte para todos os gostos.

Parti de Paris neste 14 de Julho, dia em que se comemora a tomada Bastilha, a verdadeira festa nacional que ficou para trás enquanto o avião seguia para outro continente. Mas eu volto!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A Lua, o Sol

Eu estou do lado de fora, acompanhando a eclispe lunar. Aqui, além da eclipse, houve o fenômeno da lua vermelha, é lindo e eu tenho fascinação por fenômenos da natureza. Aqui, a eclipse será total, a lua, bela e cheia, desaparacerá na sombra da terra ao mesmo tempo em que milhares de habitantes do planeta terra como eu, passarão horas a ver esse processo.

Antes do início da eclipse, a lua mudou de cor. Um enorme ponto vermelho dominava o céu intensamente estrelado. Só pude lamentar por não ter uma dessas câmeras super hiper high tech com aquelas lentes de 3 metros de comprimento para roubar para mim o fenômeno. Como já aconteceu muitas vezes, fico com o registro em minha memória, compartilhado com um grupo de italianos, uma dinamarquesa, um indiano, um franco-argelino-espanhol. A lua, afinal, não tem nacionalidade, mesmo que supostamente no mesmo ano em que eu nasci dizem ter fincado nela uma bandeira nacional.

Só lamento saber que as pessoas daqui, uma região privilegiada para ver este momento, não sabiam que a lua se mostraria de formas tão distintas em tão poucas horas. Tentei compartilhar com algumas pessoas numa atitude tonta : olha a lua ! olha a lua ! Mas foi um pouco como ser personagem do Mito da Caverna (farei outro paralelo para ilustra-lo em outro momento).

Meu pescoço dói entre voltar-se ao céu para ver A eclipse e voltar a baixar para ver a tela deste computador. Coloquei uma cadeira do lado de fora para ter vista priviliegiada.Me pego sem saber se eclipse é homem ou mulher. Gosto de pensar que seja A eclipse… A lua…

Fiquei sabendo dA eclipse pela internet ao mesmo tempo em que eu resolvi tomar certo tempo para saber qual seria a rota e o tempo entre um dos projetos e a cidade central de nossos projetos. Segundo as pessoas locais, a viagem duraria uma semana e meia. O Google Map, tão alheio a uma realidade tão distinta, não imagina que a viagem baixo um sol escaldante, estradas que fazem o roteiro Paraty-Cunha parecer uma autobahn alemã e temporadas de chuva vão durar muito, mas muito mais que as 10 horas apontadas pelo indicador virtual e realmente virtual de caminhos.

Falta pouco para o fim dA eclipse. É um privilégio. Obrigada, LUA. Amanhã, de volta ao planeta TERRA, mais um dia de muito SOL.

sábado, 11 de junho de 2011

Força na mandioca

Seguindo a linha “intercambios entre o Brasil e a África”, hoje o assunto é gastronomia. Um dos pratos típicos desta região é o fufu, uma maçaroca altamente consistente, quase cinza, sem gosto e sem graça. Pois bem, essa maçaroca é feita do que aqui chamam de farinha de mandioca. Mas atenção, nada a ver com a nossa boa farinha de mandioca, altamente utilizada para fazer aquela farofa deliciosa que eu sou capaz de comer sem nada mais e indispensável para acompanhar aquela carninha do churrasco e componente obrigatorio do kit feijoada.

Então se pegamos esta outra farinha, a do fufu, e juntamos bastante queijo , leite, óleo e um pouco de sal, o resultado mágico desta combinação é o meu, o seu, o nosso, o do mineiro e de quem mais for o pão de queijo! Isso porque o polvilho é nada mais, nada menos um produto da mandioca, tal e qual é a farinha usada para fazer aquela maçaroca.

Às vezes, apresenta-se à mesa mandioca frita ou cozida, muito mais interessante e familiar ao meu paladar tupiniquim. O que eu desconhecia era o uso da folha da mandioca para compor o prato do dia-a-dia local, chamado pundu. Está longe de ser a maravilha deliciosa que é a couve, folhas estas que cheguei a plantar em Honduras depois de sobreviver a um ano de abstinencia da minha folha favorita, mas se preparada refogadinha com cebola e alho até que quebra o galho (e agora quase vira poesia). A coisa é que eles aqui não preparam a folha refogadinha com cebola e alho e é fato que a criatividade não é o forte da cozinha congolesa.

A mandioca não existia no Congo até que alguns ancestrais dos atuais donos de padarias, moteis e açougues do meu Brasil varonil resolveram levar esta raiz da Terra de Vera Cruz ao continente africano, aproveitando a viagem que faziam para buscar trabalhadores nada voluntários. Séculos depois, a mandica, aqui chamada manioc, continua fazendo parte da cozinha de uma parte considerável da Africa, mas ninguém, ninguém mesmo faz farofa no Planeta Terra além de nós. Ao menos não que eu saiba. A tapioca, por outro lado, se faz presente fora do território brasileiro. Em Honduras também tem muita mandioca, que nunca entendi o porquê, é vendida nos supermercados com uma capa de parafina. Mas não tem a nossa farinha de mandioca também. E foi por isso que paguei excesso de bagagem quando na volta do Brasil rumo à Honduras, levei quilos de farinha Ioki na mala, além de cachaça, trigo para quibe, mate de chimarrão, cuia, fubá e claro, sementes de couve, para garantir um amparo nos momentos de nostalgia gastronômica.

Em tempo, o abacaxi aqui é incrivelmente delicioso, doce, e tão grande que teria feito Chacrinha desistir de distribuir o Troféu Abacaxi aos seus candidatos menos talentosos. Esta fruta chegou à Africa pelo mesmo caminho da mandioca, mas pelo visto, encontrou terras mais ideais deste lado lo oceano.

Termino com uma lenda indígena bem brasileira, que eu conheci graças a um programa de rádio que seguia a Voz do Brasil chamado Projeto Minerva que meu pai gostava de ouvir (ou gostava que eu ouvisse), ainda criança e que nunca esqueci:

« Nasceu uma indiazinha linda e a mãe e o pai tupis espantaram-se:
- Como é branquinha esta criança!

Chamaram-na de Mani. Comia pouco e pouco bebia.

Mani parecia esconder um mistério. Uma bela manhã, Mani não se levantou da rede.
O Pajé deu ervas e bebidas à menina. Mani sorria, muito doente, mas sem dores.
E sorrindo Mani morreu.

Os pais enterraram-na dentro da própria oca e regaram a sua cova com água, como era costume dos índios tupis, mas também com muitas lágrimas de saudade.

Um dia, perceberam que do túmulo de Mani rompia uma plantinha verde e viçosa. A plantinha desconhecida crescia depressa.

Poucas luas se passaram e ela estava alta, com um caule forte que até fazia a terra rachar ao redor.

- Vamos cavar? - comentou a mãe de Mani.

Cavaram um pouco e, à flor da terra, viram umas raízes grossas e morenas, quase da cor dos curumins, nome que dão aos indiozinhos. Mas, sob a casquinha marrom, lá estava a polpa branquinha, quase da cor de Mani.

- Vamos chamá-la de Mani-oca. - resolveram os índios.

Transformaram a planta em alimento e até hoje, entre os índios do norte e do centro do Brasil, este é um alimento muito importante. »

terça-feira, 31 de maio de 2011

Verde, amarelo, azul e mzungu

Ser brasileira faz de mim um ser universal, é essa a sensação que tenho. Para ser ainda mais universal, meus pais brincaram de “papai-mamãe” na Alemanha, partiram grávidos de navio para o Brasil e finalmente nasci em São Paulo, terra de muitos imigrantes, migrantes, onde pouco mais da metade da população da cidade não nasceu.

Até agora, em qualquer parte do mundo onde estive, mencionar que sou brasileira parece reduzir consideravelmente algumas distancias. Também houve quem se surpreendeu ao ver que eu não era uma mulata com samba no pé e sim uma branquelona que frequentemente já foi tomada por americana pelas andanças na América Central, o que também aumenta o assédio dos vendedores de bugigangas, bem como o preço destas.

Na Africa, portanto, sou parte de uma minoria dentro do quesito cor-da-pele. Ainda assim, ser da terra do samba, do afoxé, do olodum, do Carlinhos Brown, da mulata, do rei Pelé, da Umbanda, do Candomblé, do batuque, da bunda, do Ronaldinho, da cachaça e da macumba faz com que eu me sinta um pouco mais em casa. Ao menos quando posso falar de meu país e mostrar quantas coisas chegaram da Africa. Alias, descobri recentemente que o “huile de palme” (Óleo de palmeira) que tanto falam aqui é nada mais, nada menos que nosso azeite de dendê!

Porém, tem o outro lado da moeda. Sabemos que tudo isso, assim como meus pais grávidos, também chegou de navio. Este navio, no entanto, se chamava “Navio Negreiro”, cuja finalidade estava bem longe de servir ao turismo. Castro Alves fez poesia, o que, aliás, me faz lembrar uma amiga do colegial que foi obrigada a decorar todo o poema – e que ilustra muito bem uma triste realidade de nossa história-, por nossa extremamente rígida professora de português, rigidez esta rara numa escolaestadualdeprimeiroesegundograu, mas ao qual eu sou produndamente agradecida até hoje. Obrigada, professora Marilda, por ter evitado que alguns de seus mancebos e mancebas fossem além da mediocridade ortográfica e no analfabetismo funcional que infelizmente também está presente em nosso Brasil varonil.

Aqui, quando ando pela cidade, sou chamada de mzungu. Quando estou nos vilarejos, em outra região, sou mundele. Ambas as palavras significam “pessoa branca”, a primeira em suahili, a segunda em lingala. Deixo de ter nome e endereço para ser identificada e nomeada segundo a cor da minha pele. Isso me faz lembrar também que no Brasil, apesar de toda sua exaltação do orgulho de sua heterogeneidade, de suas influencias de todo o mundo e de sua miscigenação de raças, é um país que precisou criar uma lei para evitar que a cor da pele fosse fruto de discriminação. Um “e aí, negão”, dependendo de como se coloca e de como se interpreta, pode legar uma pessoa à cadeia. No Brasil, também foi preciso criar o sistema de cotas em universidades públicas para tentar minimizar a falta de equilibrio mostrada em estatísticas nas quais afrodescendentes aparecem em número infinitamente menor que eurodescendentes nas salas de aula. Tudo isso mais de um século depois da assinatura da lei Áurea.

Ser identificada como ‘mudele’, até tem seu charme. Ver um grupo de crianças pouco habituadas à presença de cara-pálidas (a professora Marilda foi antes da revisão ortográfica, não sei se vai hífen ou não) correndo em sua direção gritando “mundele, mundele” como se eu fosse alguma atração turística pode até ser uma interessante experiência antropológica. Então o tempo passa e a novidade também deixa de ser novidade. Ao fazer compras na cidade, o cumprimento sempre vem acompanhado de “mzungu”. Bom dia mzungu, aqui tem um lugar, mzungu, fez boa viagem, mzungu? O ser humano é especialista em criar diferenciações. Mas talvez o problema não seja fazer a diferenciação, mas como a fazemos. Assim, o que difere as pessoas não é a cor da pele, mas a intenção de seus atos.

A lei contra o racismo quer evitar que a menção à raça seja objeto de ofensa. Chegar ao ponto de ser necessario haver uma lei dessas num país tão rico em influencias culturais é triste. A história, com muitos tropeços, permitiu que descendentes de seres de todo o mundo convivessem na terra que tudo dá. Mas a lei foi necessária e ainda bem que pode enfim ser criada, o que mostra o reconhecimento de um problema e quem sabe, possa levar a reparar as consequencias marcadas de uma historia da qual não tenho orgulho.

Em tempo. Aqui, eu tenho cabelo ruim, me disseram ainda no Chade. Meu cabelo escorrido não me permite reproduzir o trançado incrível que as mulheres fazem. São penteados lindos e criativos que se pudessem ressaltar do outro lado do Oceano Atlântico o orgulho individual do que é naturalmente belo dentro de cada raça humana, deixaria o mundo verdadeiramente colorido.

sábado, 28 de maio de 2011

Raízes Voadoras

Hoje me deu vontade de falar não de minha vida longe da minha cidade, mas sim da minha cidade, a megalópole de São Paulo. Antes, no entanto, tenho que dizer que o que me inspirou a fazê-lo foi uma cena da cidade que vi esta tarde no filme “Bruna Surfistinha”. Ok, sim, eu vi este filme, um teaser baixado da internet (ops) com alguns problemas de finalização de edição de som e imagem, mas o filme está lá inteirinho. Alias, agora me ocorreu que se algum fã da moça for procura-la no google, corre o risco de cair aqui, um blog que apesar de falar da alta temperatura africana e que até já falou de febre, está longe de ser quente como o blog escrito por ela e que a levou ao mundo literário, televisivo e cinematográfico. Mas enfim, queria ver algum filme recente brasileiro. Este, além do mais, conta com uma breve aparição de um amigo meu fazendo o papel de um usuario dos serviçõs profissionais de Bruna Surfistinha, numa cena meiga em que ele mostra fotos de família para sua prestadora de serviços, portanto não o baixei porque queria ver Debora Secco fazendo Debora Secco papel da garota de programa.

Então, há uma cena no começo do filme em que ela está na janela e o que se vê é uma imensidão de prédios altos, feios, quadrados e sem graça. Esta é uma das paisagens mais comuns para quem mora em São Paulo. Eu morei em onze casas diferentes nesta cidade, em sete bairros distintos e a paisagem, na sua grande maioria, se tratavam de prédios altos, feios, quadrados e sem graça. Ainda que não fossem a única coisa a se ver, eles estavam lá. Até meus quase cinco anos, lembro-me (sim, eu me lembro!) que da casa onde morávamos e que deu lugar a um prédio alto, quadrado e sem graça tinha como vizinho um prédio alto quadrado e sem graça. Depois me mudei para outra casa, na Vila Mariana, de onde na época era ainda possivel contar, desde o fundo do quintal, o número de prédios do gênero que creio, era sete. A construção de um grande prédio na rua chegou a ser a sensação do momento. Hoje, são dezenas de prédios altos, quadrados e sem graça. Ah, sim, isso me faz lembrar que ainda era possível contar estrelas também! Sim, fui criança nos anos 70, época em que era proibido cantar o Hino Nacional em vão, mas podíamos nos arrebentar de tanto brincar na rua.

Fui morar pela primeira vez em apartamento no começo dos 90 e apesar da grande área de laser comum à centena de moradores daquele conjunto de prédios altos, feios, quadrados e sem graça, algo criado para dar a falsa sensação de amplitude daquele minúsculo território, creio ainda que o espaço de uma casa (desde que tenha quintal) tem algo especial. Mas na minha cidade, como a grande maioria das grandes cidades, o item segurança costuma fazer parte do pacote.

Por ter estado nos últimos quase três anos mais tempo fora que na minha cidade, quando volto passo a ve-la com olhos de turista. Andar no centro e parar para ver edifícios de muitas décadas atrás, quando o art-nouveau era a grande tendência, chega-se a lastimar o fato de que hoje as fachadas externas dos prédios raramente, muito raramente mesmo, recebam algum toque um pouco mais artístico. É bonito de se ver os portões destes prédios antigos, os parapeitos, cada detalhe que escapa aos olhos de quem anda apressado pela XV de Novembro, pela Rua do Café e pelos arredores. Ninguém quer ver prédios feios. Não é para menos que um apartamento com vista para o Ibirapuera seja mais valorizado que um com vista para um monte de paredes.

Como papel de parede do meu computador, tenho uma foto de São Paulo. A coloquei depois de 2 meses na selva. Nela, muitos, muitos, muitos e muitos prédios altos, feios, quadrados e sem graça. Aos que a vêem, sempre há um misto de admiração, surpresa, horror à visão desta outra selva.

São Paulo não é uma cidade bonita e muitos cariocas usarão isto contra mim, eu sei. Ainda assim, consigo construir dentro desta cidade meu espaço. Nunca vou me apropriar dela toda e nem pretendo. Limito-me a andar na Avenida Paulista, para onde vou sempre que quero sentir-me de volta, talvez porque foi ali onde dei meus primeiros passos, já que a primeira casa que morei ficava a 200 metros desta avenida, no tempo em que ainda restava um número considerável de casarões (anos 70, lembra?) e em que eu achava que o que hoje é a “Casa das Rosas” era a casa da bruxa, por conta do pequeno balcão que existe sobre o telhado.

São Paulo não tem praia, não tem montanha, tem alguns parques que ficam abarrotados de gente nos fins de semana e sim, eu gosto do Ibirapuera. Tem muitos bairros que possivelmente eu nunca venha a conhecer, a não ser que eu conheça alguém que more neles e que eu vá visitar, caso a preguiça de me locomover para algum ponto distante, a idéia de metrô lotado ou trânsito pesado não me faça mudar de idéia. Ando, como já disse, por toda a região central e por ter vivido grande parte da minha vida no bairro da Vila Mariana, ali me sinto um pouco em casa também.

Já morei no Bixiga, num apartamento velho e enorme que dava vista para os ensaios da Vai-vai, uma experiencia única, sem dúvida, que me fez gostar um pouco mais de carnaval e de onde eu podia chegar rapidamente ao cinema do Shopping Frei Caneca para ver um filme bacana. E cinema sempre foi meu programa preferido, o que me faz lembrar que um amigo colocou muito bem que os bons cinemas estão concentrados em uma única região e que não é, portanto, uma coisa verdadeira de São Paulo isso de dizer que São Paulo é uma cidade conectada ao mundo culto, já que o tal cinema cabeça não está presente na maior parte da cidade, é balela. Bem, neste caso, talvez eu viva em uma ilha paulistana, já começo a constatar.

Outra experiencia autenticamente paulistana foi ter morado quase de frente para o metrô Sumaré. No meu quarto, ouvia o apito do metrô ao fechar as portas. Enfim, tudo isso fez de mim um espírito paulistano, um espírito urbano que sai da toca cada vez que tem a oportunidade. Viver no meio da selva não me tira isso, é como algo que fica dormente e que desperta assim que vê um prédio alto, feio, quadrado e sem graça. E é por isso que este blog tem o nome que tem. Por mais que me mova, as raízes estão lá.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Haja energia!!!

Dar uma espiada no facebook sempre me remete ao mundo moderno e civilizado graças aos amigos que longe do contexto digamos, natureba em que vivo, postam coisas muito mais próximas da realidade cosmopolita da megalópole. Afinal, grande parte de meus amigos seguem suas vidas na selva de pedra. Hoje, foi o post de uma amiga exaltando a invenção da energia elétrica e que provocou comentários sobre as invenções subsequentes que vão desde a tomada, passam pelo secador de cabelos e chegam à máquina de lavar roupa.

Pois bem, aqui no meio da floresta africana, ter energia elétrica depende do funcionamento de um barulhento gerador. Nos dias em que estive de férias, minha alegria era poder acender a lâmpada a qualquer hora do dia e da noite, coisa que não podemos fazer aqui. Às 22h30 o gerador é desligado e alguns lampiões a querosene são dispostos em lugares estratégicos para iluminar o caminho, por exemplo, do quarto até o banheiro.

O vilarejo chegou a gerar energia elétrica quando os belgas ainda eram os donos do pedaço. Hoje, só quem tem gerador pode acender uma lâmpada e isso só nas ONGs e alguns órgãos do governo. A população vive com seu lampião, uma fogueira para reunir os amigos e a família, coisas que quem pode acender uma lâmpada às 2 da manhã costuma considerar parte de um bom luau na praia ou de uma seresta na fazenda.

Assim sendo, usamos o gerador para que possamos acender as lâmpadas quando cai a noite, mas com tempo limitado, para recarregar nossos modernos aparatos eletrônicos, seja um celular que só serve como despertador porque na maior parte do tempo não há rede, seja o computador que, apesar de tudo, acessa a internet graças à rede wi-fi, um verdadeiro paradoxo. A energia serve também para manter funcionando os meios de comunicação de emergencia, como os carregadores dos rádios e do telefone via satélite, cujo minuto de ligação é impublicável. Há, portanto, um back-up de energia para esses últimos, já que ficar incomunicável no meio da selva em alguma situação desagradável não é o que se deseja.

E só, não há secador, máquina de lavar, ferro de passar, chuveiro elétrico (nem sequer há um chuveiro), televisão, liquidificador, micro-ondas ou qualquer outra coisa que só funcione quando conectado a uma tomada. Ah sim, há geladeira que neste projeto usa sim energia elétrica, mas que no outro funciona à combustivel!

O mais interessante disso tudo é como criamos habitos segundo tais condições. Acabo dormindo cedo, a falta de chuveiro quente (opa, a falta de chuveiro) me faz tomar meu bom banho de caneca por volta das 5 da tarde para aproveitar que ainda está calor, planejamos atividades extras que nos permitam aproveitar a luz e para saber o que há pelo mundo lê-se na internet ou então, conta-se com a energia os posts dos amigos no facebook.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

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Em meus últimos dias de férias, saí de Jinja e fui para Kampala. Capital de Uganda, Kampala é uma cidade realmente digna de ser chamada cidade grande: prédios, avenidas, ruas, semáforos, comércio de qualquer espécie, vendedores ambulantes aproveitando o tráfego que vendem desde cana de açucar pronta pra chupar até raquetes daquelas de fazer moscas e mosquitos se arrependerem de ter chegado perto. Mas a grande prova de pertenencia ao mundo dito civilizado é a existencia de um desses templos do consumismo chamado “shopping center”, que por aqui (e por muitos outros lugares do mundo) é chamado de Mall, já que shopping center é nada mais que a tradução sem graça de “centro de compras”.

Em São Paulo existe um desses em cada esquina e segundo importantes informações que me chegam diariamente via Facebook por parte de uma amiga inconformada por ver o cenário de sua janela sendo destruído com a construção de mais um na já congestionada Avenida Paulista, eles seguirão proliferando enquanto for necessário gerar renda às pobres famílias Mastercard, Visa e American Express.

O que quero descrever, no entanto, é a estranha sensação de deslumbre quando depois de três meses e meio entra-se num desses lugares. Quando a gente aprende (ou busca aprender) a viver em uma aldeia onde não é possível sequer comprar uma escova de dentes, voltar a entrar num imenso supermercado do tipo Extradabrigadeiro (lembrei de um amigo que escreve metrovilamadalena para deixar bem claro e destacado o poder da expressão), é, num primeiro instante, um misto de encantamento, de retorno ao poder de compra, de ter a sensação de ter tudo aos seus pés, de acessibilidade, de “Yes, I Can!”, de não sei o que. A imagem dos carrinhos de supermercado, aquele monte de caixas, o barulhinho do produto passando pelo leitor de barras, as frutas e verduras em montinhos bem alinhados, o departamento de eletrônicos, TVs de plasma, cereais, vinhos, chocolates, toalhas, azeite de oliva extra virgem e... mas e aí?

O meu estado de “estou no paraíso” foi dando lugar a um “tá, e agora?” à medida em que conquistava aqueles corredores plenos de bens de consumo para todas as necessidades e reflito o quanto a necessidade é ela mesma um produto de venda. No meu caso, satisfazer meus desejos de consumo depende de uma estrutura logistica especial, já que onde eu trabalho não há uma cozinha tradicional, mas sim um fogão à carvão e meu prazer de cozinhar vai se desfazendo ao pensamento de ter que acender o carvão, esperar um bom tempo e não ter grande precisão da força do fogo necessário para o cozimento de seja lá o que for. Por isso, não fiz grandes aquisições culinárias e me limitei a comprar felicidade em forma de chocolate para os colegas lá na floresta, um pacote de milho para pipoca e uma pequena garrafa de azeite extra virgem como um pequeno luxo que dá sabor ao queijo local e ao pão que, feito forçosamente no forno à lenha, é excelente. Talvez o grande momento de êxtase foi ter utilizado meu cartão de crédito para pagar a conta com a felicidade de uma adolescente que tem em suas mãos aquele poderoso pedaço de plástico que tem o mágico poder de fazer esquecer a conta que virá depois.

No dia seguinte, fui a um mercado autenticamente popular que dizem ser o maior da África. Se é o maior eu não sei, mas é sem dúvida o lugar que mais concentra vendedores de tudo por metro quadrado que eu já vi em minha existência. O chão é de terra, as barracas de madeira podem ter apenas 80cm de comprimento e concentrar montanhas de roupas de segunda mão. Ali, para comprar algo parte-se para a tradicional barganha e o preço pode variar imensamente para uma pessoa local e uma estrangeira, especialmente se esta tiver belos olhos verdes como eu. Consigo baixar o preço para a metade do inicial mais saio com a sensação de que ainda assim paguei demais. O tour de compras seguiu para um conjunto de lojas de artesanato. Outra vez, sem novidades, já que todas vendem exatamente os mesmos produtos e, portanto, nada mais a dizer sobre o tema “artesanato”

Fazer compras não é meu passatempo favorito, mas viver esta atividade de maneiras extremas acaba sendo uma experiencia bem interessante. Agora é voltar à selva e ver que afinal se algumas coisas fazem falta, outras no fundo não fazem tanta falta assim e que depois de duas lojas, todas são iguais. E que digitar a senha do cartão é nada mais um movimento automático.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Fui à Jequitebinha e lembrei-me de você

No meu trabalho, temos direito à uma semana de férias a cada 3 meses trabalhados. Parece coisa de algum profundo estudo científico, tamanha a precisão quanto à necessidade de ter uma pausa depois desse período, visto que o contexto estar longe de casa, de família, de amigos, do cinema preferido, do chuveiro quente (ou de um chuveiro, que seja) e por alguns momentos em que mesmo a sopinha quentinha de mandioquinha da mãe é tudo o que se quer, faz com que corpo e mente peçam por uma escapada.

De certa forma, o que fazemos é um turismo forçado. Não que seja menos agradavel, mas ele é determinado por circunstancias tais como: ter que faze-lo dentro do período determinado, procurar o que tem para fazer nos arredores do país de trabalho, onde é permitido ir, o quanto se quer compensar a falta de conforto do local de trabalho, além do tradicional “o quanto quer-se pode-se gastar”. Não é como contatar o agente de viagens ou fazer uma busca por conta própria atrás de uma viagem dos sonhos a algum lugar secular para dali oito meses e meio, coletar informações, folders, ir até a livraria e comprar o guia turístico do lugar, pensar no que vai comprar para si e para os outros. É simplesmente pegar a tal semana e saber aproveitar.

E assim, eu vim parar em Jinja, indicação de uma colega de trabalho, que por sua vez também tinha vindo por indicação. Eu queria algo prático, rápido, não muito caro e que desse para ficar de bobeira. A grande parte dos meus colegas tem preferido ir para Zanzibar, uma ilha da Tanzânia no Oceano Índico. Isso significava para mim muitos aviões, aeroportos, mais gastos e menos tempo sem relaxar, embora a idéia fosse para lá de tentadora. Não é todo dia que vamos à uma ilha com nome de bar de praia descolada.

Como a coisa é turistear, depois de devidamente recuperada do meu batismo no mundo das doenças tropicais, fui bater perna na cidade. E como toda cidade com certo perfil turistico, existirão lojas de artesanato dito local. Isso quer dizer que é possível encontrar rinocerontes de madeira com a inscrição “I love Uganda” mesmo que não exista um rinoceronte sequer em Uganda. O mesmo mesmíssimo rinoceronte poderá ser encontrado no Quenia, onde devem existir rinocerontes, com a inscrição “I love Kenya”. Certamente, veremos o mesmo rinoceronte em qualquer lojinha de artesanato “local” que possa existir no continente africano, porque afinal rinocerontes, elefantes, leões, gorilas e zebras povoam o imaginário de qualquer ser humano que tenha visto algum filme do Tarzan quando criança ou que depois de crescido, tenha assitido Madacascar junto com filhos ou sobrinhos (ou até mesmo sem nenhum deles, afinal desenhos animados podem ser perfeitamente um entretenimento para adultos).

O mesmo acontece em diferentes lugares do mundo também. Vi na Guatemala produtos “I love Guatemala” exatamente iguais aos encontrados na praça da República, em São Paulo. Portanto, considero lojas de artesanato o pior lugar para comprar artesanato.

Acabei comprando pequenas lembranças “pra família”, mas sem conseguir contemplar cada membro, pois o que vou levar não pode ter a inscrição “fui a blablabla e lembrei-me de você” mas sim “isso é a cara do/da...”. Fiquei tentada a levar uma camiseta com a inscrição “My name is not Mzungu”, mas deixarei este assunto para outra viagem.

A propósito, não comprei nenhum rinoceronte.

P.S.: Aproveito para pedir desculpas aos habitantes de Jequitebinha, caso este lugar exista. Não há intenção de ofender a esta que deve ser uma população orgulhosa e feliz.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Algo que já estáva escrito

Ontem pela manhã havia saido para passear por Jinja e entrei em uma loja que sem dúvida alguma pertencia a um indiano. A música estava ali, a cara também. Comprei incensos, pois só me restavam 4 para três meses de trabalho pela frente. Isso me fez lembrar de algo que eu escrevi depois de ter ido à India, em Novembro de 2009, a pedidos da Lu, mas que nunca enviei. É a primeira parte porque havia muito que dizer, escrita quando eu ainda estava em Tegucigalpa. A segunda, escreverei no aqui e agora, em outro momento.

Orientando-se no Oriente – Uma pequena viagem à India – I Parte

Ouço uma fita K7 velha com musicas ainda mais velhas que ganhei de uma amiga que graças ao seu nome único, facilitou o reencontro uma década depois e para melhor, pois aí sim veio uma grande amizade. As sobras do peru de natal esperam por alguma ideia criativa de receita para terem mais uma oportunidade de deleite e há a promessa de contar a esta mesma amiga um pouco de meus misturados sientimentos por minha passagem pela India, um país ao mesmo tempo tão rico e tão pobre, ao menos para os treinados olhos de uma cidadã de uma megalopole do lado ocidental do planeta. Este é meu cenario e enquanto viro a fita (esta noite sonhei que tentava loucamente comprar um iPod!), me inspiro para escrever sobre minhas impressões do Oriente.

Enquanto Jefferson Airplaine canta, viajo a Goa, uma pequena parte da India colonizada por portugueses que nos anos 60 foi um dos paraísos hippies e portanto, a chance que 40 anos antes algum gringo vestido de blusas tingidas e com o cabelo longo voando com as brisas do Oceano Indico também ouvia algo parecido. Minha viagem começou 48 horas antes em Tegucigalpa, Honduras, onde trabalharei até fevereiro e onde um recente golpe de Estado (há quem diga que não foi) também ameaçou um retorno aos 60. O avião (o quinto do percurso) primeiro pousou em Mumbai (eu ainda prefiro o antigo nome Bombaim) e do alto, era possível ver uma favela incrivelmente imensa, com muitas casas protegidas por lonas de plastico azuis e me lembrei que foi ali que fizeram o filme alardeado pelo premio Oscar «Slumdog Millionaire» e que eu ainda não vi, porque aqui em Tegucigalpa os filmes mais razoaveis não ficam mais de uma semana em cartaz. Mumbai também é a terra de Bollywood e a industria do cinema indiano, dentro da sua proposta muito relacionada aos costumes e fantasias locais, nada deve à industria norteamericana. São filmes cheios de música, cores, estrelas de cinema e romances sem beijos que são o entretenimento favorito de 10 entre 10 indianos.

Cheguei em Goa algumas horas depois, do aeroporto ao hotel, onde haveria uma festa de aniversario de casamento. É impressionante o valor que dão às cores nesse país, à decoração cheia de flores e luzes e aos elegantes saris que as mulheres usam para ocasiões especiais. Nos dias seguintes conheci outras pessoas, vi o respeito entre o sem número de costumes e crenças, vacas sagradas disputando espaço nas vias com carros que são dirigidos à moda inglesa, comi uma diversidade de comida que não posso dizer o nome, mas que invariavelmente apimentadas, demostram uma grande criatividade em fazer deliciosos pratos com alguns legumes e temperos que nos permite entender porque séculos atras as especiarias eram o principal alvo dos navegadores.

E como estar na India e não ir a um templo hindu? Foi outra experiencia que me fez sentir toda minha ignorancia, graças ao conflito entre querer demonstrar respeito ao lugar e aos seus devotos (hum, por que não encontro uma palavra menos católica?) e entrar no templo dedicado a Mangueshi, encarnação de Shiva sem ter a menor idéia de como proceder. Uma coisa que eu adorei foi a obrigação de tirar os sapatos, adoro andar descalça. Ali dentro sentei no chão e fiquei contemplando as imagens, a decoração prateada, as flores das oferendas, a água que cada um tomava ao chegar ao altar (será esse o nome?), a imagem de Shiva protegida atras de um portão onde só os sacerdotes (sera este o nome?) podem entrar e ouvia o mantra que era reproduzido do lado de fora. Saí com a reafirmação de que ter algo a aprender é infinito pois me dei conta de que nada sabia da religião hindu e de seus rituais. Uma verdadeira ignorante!

Quando a temperatura sobe

Ontem descobri que estou com malária. Assumi o risco e a teimosia ao deixar de tomar a profilaxia e isso representará uma boa comida de rabo quando eu retornar ao trabalho. Mas o fato é que se não fosse isso, não teria iniciado esse blog. Provavelmente, teria muitas fotos do rio Nilo em diversos ângulos, dos vales, do movimento na cidade, mas a última foto que tirei foi justamente do resultado positivo para meu exame como uma boa recordação deste que é praticamente um batizado nesse meu trabalho.

E como a febre talvez tenha me provocado alguns delírios, resolvi comparar sem alguma modéstia este evento, o de estar doente e começar a escrever, com alguns grandes mestres da literatura. A tuberculose, por exemplo, rendeu uma boa quantidade de poetas românticos, e a sífilis inspirou um dos grandes clássicos da literatura de horror, Drácula, de Bram Stoker, sem falar que essa doença também andou rodeando Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes. Até Antonio Fagundes conta que depois de um longo periodo acamado começou a ler intensamente e resolveu ser ator. Não que eu queira compara-lo com Augusto dos Anjos, já que eu só consigo imagina-lo como empresário ou dono de fazenda e com algum esforço, lembro-me que ele já foi motorista de caminhão. Fazendo um esforço ainda mais descomunal, consigo lembrar que ele apresentava um programa bacana chamado “Quem sabe, sabe”. Mas deixemos de nos esforçar e voltemos ao que interessa.

Pois bem, aqui estou eu, com uma febre que veio e foi várias vezes esses dias e que me desmotivou a explorar esse rincão da África, me fazendo preferir ficar quieta e para me recuperar do que até então eu pensava ser um resfriado. E ficando quieta, resolvi enfim dar forma às palavras e usar a tecnologia ao alcance para realiza-lo: meu computador e um blog. Sempre fui meio reticente porque afinal, sempre achei que me lancaria no mundo literário indo diretamente para a banca de best sellers, mas resolvi baixar um pouco a bola e escrever o blog, ainda que eu não goste, dentro desse meu febril delírio megalomaníaco, da idéia de que ele será apenas mais um blog perdido no vasto mundo internautico. Mas um dia a febre passa e eu provavelmente continuarei a viajar, em vários sentidos e portanto, não resistirei em deixar algo mais perdido por aqui.

PS.: Embora estes primeiros textos apareçam todos na mesma data, foram escritos em momentos diversos nesses ultimos 4 dias. Preferi acumular um pouco mais antes de deixa-los voar.

Onde eu fui amarrar minha cabra

Desde meus dias no Chade crei certa intolerancia a cabras. Cabras vivas, diga-se de passagem, porque elas dão um bom churrasco. Elas estavam ali por todas as partes, pastando, atravessando a rua, montadas nos muros, em bandos, sozinhas, com cabritos ou sem. Eu fechava os olhos e via cabras. Aqui incluo os bodes, já que por não saber dizer bode em francês, chamava a todos os caprinos simplesmente de chèvre e isso incluia as ovelhas que lá, por não serem aquelas ovelhas fofinhas que nos ajudam a dormir enquanto pulam a cerca, eram para mim nada mais que cabras um pouco mais peludas.

Pois bem, estava eu outro dia conversando pelo messenger com um amigo, coisa que não faziamos faz tempo, pois ele depois que casou, teve filhos e criou um negocio de vender teses pela internet deixou de ter tempo para essas baboseiras. Nessa conversa, surgiu o tema “vida na selva”.

As coisas mais marcantes são justamente aquelas que jamais aconteceriam eu seu habitat natural, que no meu caso, é uma cidade de muitos milhões de pessoas que tem mais prédios que árvores e se bobear, mais gente que insetos, caso isso seja possível. Mas tem-se a impressão de ter a imagem de mais pessoas que insetos quando ao contrário, você está em um vilarejo no meio da floresta africana onde um dia depois da chuva há uma verdadeira invasão de cupins daqueles que são atraídos pela luz. Uma nuvem desses insetos, que tem a companhia de ruidosos besouros, se junta a qualquer foco de luz, o que torna impossivel a permanencia em qualquer ambiente artificialmente iluminado. A grande lição do dia foi saber que existem diferentes tipos de cupins e aqueles que aparecem por volta das 10 da noite são mais... saborosos! Isso mesmo, mais saborosos. Mas bons mesmo, segundo me disseram, são os das 3 da manhã... No dia seguinte, havia uma maçaroca preparada à base dos tais cupins. Coloquei uma minuscula porção em minha boca e foi até onde eu pude chegar, enquanto os locais saborearam o tal prato como se fosse um verdadeiro manjar. Bom, talvez para eles seja mesmo.

Mas voltemos às cabras. Neste mesmo vilarejo organizou-se um torneio de futebol, esse lindo esporte evocado sempre que digo que sou brasileira e que digo que gosto quando me perguntam, apesar de não saber o nome de mais de três jogadores de futebol em ação. Nossa equipe ganhou e o premio foi uma cabra, digo, um bode. Assim sendo, contei ao meu amigo que passei uma noite inteira em claro porque resolveram amarrar o bode bem ao lado do meu quarto. Não sei dizer o porquê, mas os bodes (e as cabras) dali são muito mais ruidosos e gritadores que os bodes do Chade. As cabras chadianas faziam simplesmente béee (talvez fossem todas ovelhas, no final das contas), enquanto as congolesas berram. E assim fez o bode a noite toda. Consegui fazer que o amarrassem em outro canto nas duas noites seguintes que prescederam o seu fim. Mais um pouco de tanto ouvir aquele suplício eu teria virado vegetariana, mas creio que essa categoria alimentar está ainda longe de fazer parte de mim. Na verdade, estou mais para a idéia desses desenhos animados onde o lobo vê um pássaro e imediatamente lhe vem à mente a imagem de um bom frango assado.

Isso é um pouco da vida na selva. Quer comer carne, nada de supermercado. Conte com as cabras que perambulam pelo vilarejo ou com a sorte de que algum caçador venha com algum animal exótico para comer, como um porco espinho (delicioso), um antílope ou um macaco (nada mal). Quer banho de água quente, espere até que ela seja esquentada no fogão à carvão. Quer roupa passada, o ferro é à carvão também. Quer ler até tarde, aproveite enquanto o gerador está ligado. Depois, só com sua lanterna. Acabou seu shampoo, espere que alguem venha da “cidade grande” e peça para te trazer. Quer fazer sessão cinema, copie um bom numero de filmes no seu computador e veja-os ali mesmo. Mas enfim, são experiencias assim que fazem com que conheçamos diferentes possibilidades, mesmo que, ainda que por alguns instantes, a gente tenha um estranho desejo de ser teletransportado para um shopping center e pedir um BigMac.

O Mistério do Nilo

Sempre associei o Rio Nilo ao Egito e não é por menos. Nas longínguas aulas de história, eu costumava viajar naquelas ilustrações que buscavam retratar as civilizações antigas e entre elas não poderiam deixar de estar os egípcios e sua íntima relação de amor e negócios com o Nilo. Via-os com suas vestimentas, carregando mercadorias e navegando por aquele imenso rio.

O Nilo também apareceu nas aulas de religião. Afinal, foi no Nilo que deixaram Moises para que ele fosse salvo e anos depois desse inicio à primeira versão do código civil.

Na minha adolescencia, o rio Nilo ressurgiu em minha vida graças a uma das minhas bandas preferidas de então, a Capital Inicial, que cantava aquela música chamada “Descendo o rio Nilo” (A Europa está um tédio, vamos transar com estilo, nós só temos um remédio, descendo o rio Nilo...), que pensando bem, não é exatamente um supra-sumo poético mas não posso deixar de pensar que quando a ouvia não fazia mínima idéia de que um dia eu estaria ouvindo “tambores, tremores vindos da Africa”.

É em Jinja, Uganda, onde supostamente nasce o Nilo, ali se misturando ao lago Vitoria. Digo supostamente, porque o mapa aponta duas nascentes e eu nunca vi algo ou alguém nascer em dois lugares diferentes. Afinal, nascente é onde começa o rio, é, segundo meus parcos conhecimentos de geologia, aquele ponto onde as águas do rio vão mostrar a cara ao mundo pela primeira vez. Mas em Jinja é assim, o Nilo tem duas nascentes, com uma distancia aproximada de uns 200 metros uma da outra. Para complicar ainda mais a situação, o guia que conseguiu me fisgar e por 8 dólares me levou para um passeio de barco de uma nascente à outra, disse que os ruandenses reivindicam para eles a nascente do rio, que segundo ele faz questão de dizer em tom altamente patriótico, não é verdade. O rio nasce ali, às marges no Lago Vitória, o maior lago da Africa e outro patrimonio nacional ugandense, não 100%, já que ele é dividido entre Uganda, Tanzania e Quenia.

Nesse passeio, vi um bom exemplo de saber explorar uma fonte turística. Fizeram no meio das águas duas pequenas ilhas artificiais. Uma povoada de centenas de pássaros de todos os tipos e outra bem ao lado da nascente (qual mesmo?) do rio, que aparentemente fica no fundo das águas (a nascente, não a ilha), devidamente abastecida de uma lojinha de artesanato e uns banquinhos para que possamos desfrutar da paisagem, que por sinal é belíssima, isso não posso negar. Na ilha dos pássaros, havia um pequeno crocodilo perdido, já que também conseguiram dar um jeito para que eles não circulassem por ali, pois lugares feitos para que turistas possam apreciar a natureza não são feitos para alguns membros da natureza. E “eu fico pensando no que você faria, se tivesse visto aquilo, o que, o quee???”

Ao final das contas, nem o wikipedia me deu a resposta, mas pensando que o Nilo ainda terá milhares de quilómetros e muitos crocodilos pela frente até chegar ao mediterrâneo e que deste mesmo rio já nasceram tantas histórias, não saber precisar onde ele começa pode não ser a coisa mais importante do mundo. Mas eu estive lá perto, isso sim importa! “Amor de crocodilo, descendo o rio Nilo, amor de crocodilo, descendo o rio Nilo”.

Acredite se Quiser

Em algum ponto da transição entre minha infância e minha adolescencia que não sei precisar, um dos grandes programas familiares era ver um programa de TV chamado “Acredite se Quiser”, apresentado por Jack Palance, um ator desde filmes de terror à filmes de faroeste que segundo minha mãe, parecia muito com seu pai (ou simplesmente meu avô) e talvez justamente por isso, ela raramente se juntava a nós.

O programa mostrava curiosidades do mundo animal, fazia tambem as vezes de circo dos horrores mostrando deformidades humanas e tinha ainda seu lado livro dos récordes exibindo coisas como o homem mais forte do mundo, a mulher mais cabeluda, o animal mais veloz, concursos de quem come mais cachorros-quentes em menos tempo e assim por diante. Ao final de cada bloco, sempre havia um “Você sabia...?”.

Mas por que tive esse devaneio nostálgico? Estou nesse pequeno e simpático hotel (www.2friends.info) em um vilarejo de Uganda chamado Jinja, com direito à TV a cabo, um dito luxo nessa semana de férias de um lugar que nem sequer existe televisão. Vejo o Discovery Channel e me admiro como eles conseguem preencher uma semana inteira e o dia todo sua programação com os mesmos temas que faziam nossa alegria uma única hora por semana décadas atrás (literalmente falando!). A grande questão é: Será que hoje existe algum programa com o poder de juntar toda a família?