quinta-feira, 16 de junho de 2011

A Lua, o Sol

Eu estou do lado de fora, acompanhando a eclispe lunar. Aqui, além da eclipse, houve o fenômeno da lua vermelha, é lindo e eu tenho fascinação por fenômenos da natureza. Aqui, a eclipse será total, a lua, bela e cheia, desaparacerá na sombra da terra ao mesmo tempo em que milhares de habitantes do planeta terra como eu, passarão horas a ver esse processo.

Antes do início da eclipse, a lua mudou de cor. Um enorme ponto vermelho dominava o céu intensamente estrelado. Só pude lamentar por não ter uma dessas câmeras super hiper high tech com aquelas lentes de 3 metros de comprimento para roubar para mim o fenômeno. Como já aconteceu muitas vezes, fico com o registro em minha memória, compartilhado com um grupo de italianos, uma dinamarquesa, um indiano, um franco-argelino-espanhol. A lua, afinal, não tem nacionalidade, mesmo que supostamente no mesmo ano em que eu nasci dizem ter fincado nela uma bandeira nacional.

Só lamento saber que as pessoas daqui, uma região privilegiada para ver este momento, não sabiam que a lua se mostraria de formas tão distintas em tão poucas horas. Tentei compartilhar com algumas pessoas numa atitude tonta : olha a lua ! olha a lua ! Mas foi um pouco como ser personagem do Mito da Caverna (farei outro paralelo para ilustra-lo em outro momento).

Meu pescoço dói entre voltar-se ao céu para ver A eclipse e voltar a baixar para ver a tela deste computador. Coloquei uma cadeira do lado de fora para ter vista priviliegiada.Me pego sem saber se eclipse é homem ou mulher. Gosto de pensar que seja A eclipse… A lua…

Fiquei sabendo dA eclipse pela internet ao mesmo tempo em que eu resolvi tomar certo tempo para saber qual seria a rota e o tempo entre um dos projetos e a cidade central de nossos projetos. Segundo as pessoas locais, a viagem duraria uma semana e meia. O Google Map, tão alheio a uma realidade tão distinta, não imagina que a viagem baixo um sol escaldante, estradas que fazem o roteiro Paraty-Cunha parecer uma autobahn alemã e temporadas de chuva vão durar muito, mas muito mais que as 10 horas apontadas pelo indicador virtual e realmente virtual de caminhos.

Falta pouco para o fim dA eclipse. É um privilégio. Obrigada, LUA. Amanhã, de volta ao planeta TERRA, mais um dia de muito SOL.

sábado, 11 de junho de 2011

Força na mandioca

Seguindo a linha “intercambios entre o Brasil e a África”, hoje o assunto é gastronomia. Um dos pratos típicos desta região é o fufu, uma maçaroca altamente consistente, quase cinza, sem gosto e sem graça. Pois bem, essa maçaroca é feita do que aqui chamam de farinha de mandioca. Mas atenção, nada a ver com a nossa boa farinha de mandioca, altamente utilizada para fazer aquela farofa deliciosa que eu sou capaz de comer sem nada mais e indispensável para acompanhar aquela carninha do churrasco e componente obrigatorio do kit feijoada.

Então se pegamos esta outra farinha, a do fufu, e juntamos bastante queijo , leite, óleo e um pouco de sal, o resultado mágico desta combinação é o meu, o seu, o nosso, o do mineiro e de quem mais for o pão de queijo! Isso porque o polvilho é nada mais, nada menos um produto da mandioca, tal e qual é a farinha usada para fazer aquela maçaroca.

Às vezes, apresenta-se à mesa mandioca frita ou cozida, muito mais interessante e familiar ao meu paladar tupiniquim. O que eu desconhecia era o uso da folha da mandioca para compor o prato do dia-a-dia local, chamado pundu. Está longe de ser a maravilha deliciosa que é a couve, folhas estas que cheguei a plantar em Honduras depois de sobreviver a um ano de abstinencia da minha folha favorita, mas se preparada refogadinha com cebola e alho até que quebra o galho (e agora quase vira poesia). A coisa é que eles aqui não preparam a folha refogadinha com cebola e alho e é fato que a criatividade não é o forte da cozinha congolesa.

A mandioca não existia no Congo até que alguns ancestrais dos atuais donos de padarias, moteis e açougues do meu Brasil varonil resolveram levar esta raiz da Terra de Vera Cruz ao continente africano, aproveitando a viagem que faziam para buscar trabalhadores nada voluntários. Séculos depois, a mandica, aqui chamada manioc, continua fazendo parte da cozinha de uma parte considerável da Africa, mas ninguém, ninguém mesmo faz farofa no Planeta Terra além de nós. Ao menos não que eu saiba. A tapioca, por outro lado, se faz presente fora do território brasileiro. Em Honduras também tem muita mandioca, que nunca entendi o porquê, é vendida nos supermercados com uma capa de parafina. Mas não tem a nossa farinha de mandioca também. E foi por isso que paguei excesso de bagagem quando na volta do Brasil rumo à Honduras, levei quilos de farinha Ioki na mala, além de cachaça, trigo para quibe, mate de chimarrão, cuia, fubá e claro, sementes de couve, para garantir um amparo nos momentos de nostalgia gastronômica.

Em tempo, o abacaxi aqui é incrivelmente delicioso, doce, e tão grande que teria feito Chacrinha desistir de distribuir o Troféu Abacaxi aos seus candidatos menos talentosos. Esta fruta chegou à Africa pelo mesmo caminho da mandioca, mas pelo visto, encontrou terras mais ideais deste lado lo oceano.

Termino com uma lenda indígena bem brasileira, que eu conheci graças a um programa de rádio que seguia a Voz do Brasil chamado Projeto Minerva que meu pai gostava de ouvir (ou gostava que eu ouvisse), ainda criança e que nunca esqueci:

« Nasceu uma indiazinha linda e a mãe e o pai tupis espantaram-se:
- Como é branquinha esta criança!

Chamaram-na de Mani. Comia pouco e pouco bebia.

Mani parecia esconder um mistério. Uma bela manhã, Mani não se levantou da rede.
O Pajé deu ervas e bebidas à menina. Mani sorria, muito doente, mas sem dores.
E sorrindo Mani morreu.

Os pais enterraram-na dentro da própria oca e regaram a sua cova com água, como era costume dos índios tupis, mas também com muitas lágrimas de saudade.

Um dia, perceberam que do túmulo de Mani rompia uma plantinha verde e viçosa. A plantinha desconhecida crescia depressa.

Poucas luas se passaram e ela estava alta, com um caule forte que até fazia a terra rachar ao redor.

- Vamos cavar? - comentou a mãe de Mani.

Cavaram um pouco e, à flor da terra, viram umas raízes grossas e morenas, quase da cor dos curumins, nome que dão aos indiozinhos. Mas, sob a casquinha marrom, lá estava a polpa branquinha, quase da cor de Mani.

- Vamos chamá-la de Mani-oca. - resolveram os índios.

Transformaram a planta em alimento e até hoje, entre os índios do norte e do centro do Brasil, este é um alimento muito importante. »