quinta-feira, 19 de maio de 2011

Fui à Jequitebinha e lembrei-me de você

No meu trabalho, temos direito à uma semana de férias a cada 3 meses trabalhados. Parece coisa de algum profundo estudo científico, tamanha a precisão quanto à necessidade de ter uma pausa depois desse período, visto que o contexto estar longe de casa, de família, de amigos, do cinema preferido, do chuveiro quente (ou de um chuveiro, que seja) e por alguns momentos em que mesmo a sopinha quentinha de mandioquinha da mãe é tudo o que se quer, faz com que corpo e mente peçam por uma escapada.

De certa forma, o que fazemos é um turismo forçado. Não que seja menos agradavel, mas ele é determinado por circunstancias tais como: ter que faze-lo dentro do período determinado, procurar o que tem para fazer nos arredores do país de trabalho, onde é permitido ir, o quanto se quer compensar a falta de conforto do local de trabalho, além do tradicional “o quanto quer-se pode-se gastar”. Não é como contatar o agente de viagens ou fazer uma busca por conta própria atrás de uma viagem dos sonhos a algum lugar secular para dali oito meses e meio, coletar informações, folders, ir até a livraria e comprar o guia turístico do lugar, pensar no que vai comprar para si e para os outros. É simplesmente pegar a tal semana e saber aproveitar.

E assim, eu vim parar em Jinja, indicação de uma colega de trabalho, que por sua vez também tinha vindo por indicação. Eu queria algo prático, rápido, não muito caro e que desse para ficar de bobeira. A grande parte dos meus colegas tem preferido ir para Zanzibar, uma ilha da Tanzânia no Oceano Índico. Isso significava para mim muitos aviões, aeroportos, mais gastos e menos tempo sem relaxar, embora a idéia fosse para lá de tentadora. Não é todo dia que vamos à uma ilha com nome de bar de praia descolada.

Como a coisa é turistear, depois de devidamente recuperada do meu batismo no mundo das doenças tropicais, fui bater perna na cidade. E como toda cidade com certo perfil turistico, existirão lojas de artesanato dito local. Isso quer dizer que é possível encontrar rinocerontes de madeira com a inscrição “I love Uganda” mesmo que não exista um rinoceronte sequer em Uganda. O mesmo mesmíssimo rinoceronte poderá ser encontrado no Quenia, onde devem existir rinocerontes, com a inscrição “I love Kenya”. Certamente, veremos o mesmo rinoceronte em qualquer lojinha de artesanato “local” que possa existir no continente africano, porque afinal rinocerontes, elefantes, leões, gorilas e zebras povoam o imaginário de qualquer ser humano que tenha visto algum filme do Tarzan quando criança ou que depois de crescido, tenha assitido Madacascar junto com filhos ou sobrinhos (ou até mesmo sem nenhum deles, afinal desenhos animados podem ser perfeitamente um entretenimento para adultos).

O mesmo acontece em diferentes lugares do mundo também. Vi na Guatemala produtos “I love Guatemala” exatamente iguais aos encontrados na praça da República, em São Paulo. Portanto, considero lojas de artesanato o pior lugar para comprar artesanato.

Acabei comprando pequenas lembranças “pra família”, mas sem conseguir contemplar cada membro, pois o que vou levar não pode ter a inscrição “fui a blablabla e lembrei-me de você” mas sim “isso é a cara do/da...”. Fiquei tentada a levar uma camiseta com a inscrição “My name is not Mzungu”, mas deixarei este assunto para outra viagem.

A propósito, não comprei nenhum rinoceronte.

P.S.: Aproveito para pedir desculpas aos habitantes de Jequitebinha, caso este lugar exista. Não há intenção de ofender a esta que deve ser uma população orgulhosa e feliz.

Um comentário:

Marcos de Sá disse...

É tudo made in China, hehehe. Mas seu critério é o melhor: comprar algo que tenha a ver com a pessoa. To curtindo o blog. Beijos!