Quando eu estava na
faculdade de Psicologia, surgiu a possibilidade de nos inscrevermos durante as
ferias para um trabalho a ser feito em uma região povoada por indígenas na
Floresta Amazônica. A primeira coisa que eu pensei foi: O que? Dormir em barraca
enfiada num mosquiteiro, insetos para todos os lados, cagar no mato? Eu gosto é
de cimento, porra!
Lembro das vezes (duas
apenas) em que fui acampar na vida antes disso: Uma, em 1990, com os colegas de
outra faculdade que fiz antes de ir estudar Psicologia, aquela que a gente faz
para agradar o pai, porque na época eu achava que era o que eu deveria
fazer. Na ocasião, dormi a primeira
noite na barraca, as outras, no confortável acolchoado do banco deitado do
carro, que nem era meu. A segunda vez
foi com um amigo que fiz quando fui pra Porto Alegre e tchau e os amigos dele,
perto de uma linda praia mais ao sul de Florianópolis. Lugar lindo, paisagem
linda, mas o colchão…
Não que eu fosse uma
pessoa de luxos. Muitíssimo longe disso, para uma garota classe media que
cuidava para ter dinheiro o suficiente para pegar o ônibus no dia seguinte.
Depois disso, me convenci
que, apesar dos pesares, se não desse para bancar uma cama e um banheiro
limpinhos para as próximas viagens, eu ficaria em casa mesmo. Fiz viagens bem
econômicas pela América Central, de pagar 20 dólares a noite (nos tempos em que
um Dolar valia dois Reais) apenas para ter uma boa cama e um banho quente (em
alguns lugares era frio mesmo, mas não era um problema dada a temperature ambiente).
Enfim, calhou que o
destino (ou seja lá o que for) me fizesse passar pelas condições de vida
básicas, mas muito mais básicas que aqueles campings feitos em meus dias de
meus tenros vinte e poucos anos. Neste momento, escrevo interrompida pelas
moscas que tenho que espantar a cada segundo, debaixo de uma árvore para ter um
pouco de sombra nesse calor escaldante, do qual o único recurso para
refrescar-me será um banho de caneca quando o sol baixar, ainda para aproveitar
o pouco da luz do dia sem depender de uma lanterna para tal.
Mais tarde, após um jantar
à base de lentilhas e carne de cabra, irei dormir em horas normalmente muito antes
do habitual pois o gerador será desilgado em uma tenda, metida em uma
barraquinha anti-mosquito anti-morcego anti-aranha anti-besouro anti-rato
anti-cobra anti-escorpião anti-insetos-que-não-sei-o-nome.
Penso que esse longo
acampamento logo vai acabar. Este ano de 2015 na verdade começou em 2008,
quando uma garota já nem tão garota assim de sentimentos misturados deixava o
Brasil com sua grande mala vermelha para começar uma viagem que passou por trinta
novos países, conheceu centenas de pessoas, sendo que poucas, bem poucas mesmo
realmente ficaram e quando parou para se ver, já não era mais a mesma. Hoje, ela
pensa apenas que já é hora de voltar para casa.
Enquanto aqui estou entre
moscas e os chinelos a pisar a terra, idealizo o apartamento que ainda não
tenho, que vejam só, poderá enfim existir graças à noites quentes mal dormidas.
Dentro dele, que também não terá como ser muito grande, terá que caber um pouco
do que eu trouxe dessa história e, se ele for amplo o suficiente para acolher as
tais poucas pessoas que ficaram, as que já existiam antes da viagem começar e
as que eu ainda nem conheço mas, quem sabe, entrarão ali porque também entraram
na minha vida, ele já será grande o bastante.
Que venha 2016! Acho que
vamos nos dar muito bem!
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