domingo, 13 de dezembro de 2015

2015, o ano que começou em 2008


Quando eu estava na faculdade de Psicologia, surgiu a possibilidade de nos inscrevermos durante as ferias para um trabalho a ser feito em uma região povoada por indígenas na Floresta Amazônica. A primeira coisa que eu pensei foi: O que? Dormir em barraca enfiada num mosquiteiro, insetos para todos os lados, cagar no mato? Eu gosto é de cimento, porra!

Lembro das vezes (duas apenas) em que fui acampar na vida antes disso: Uma, em 1990, com os colegas de outra faculdade que fiz antes de ir estudar Psicologia, aquela que a gente faz para agradar o pai, porque na época eu achava que era o que eu deveria fazer.  Na ocasião, dormi a primeira noite na barraca, as outras, no confortável acolchoado do banco deitado do carro, que nem era meu.  A segunda vez foi com um amigo que fiz quando fui pra Porto Alegre e tchau e os amigos dele, perto de uma linda praia mais ao sul de Florianópolis. Lugar lindo, paisagem linda, mas o colchão…

Não que eu fosse uma pessoa de luxos. Muitíssimo longe disso, para uma garota classe media que cuidava para ter dinheiro o suficiente para pegar o ônibus no dia seguinte.

Depois disso, me convenci que, apesar dos pesares, se não desse para bancar uma cama e um banheiro limpinhos para as próximas viagens, eu ficaria em casa mesmo. Fiz viagens bem econômicas pela América Central, de pagar 20 dólares a noite (nos tempos em que um Dolar valia dois Reais) apenas para ter uma boa cama e um banho quente (em alguns lugares era frio mesmo, mas não era um problema dada a temperature ambiente).

Enfim, calhou que o destino (ou seja lá o que for) me fizesse passar pelas condições de vida básicas, mas muito mais básicas que aqueles campings feitos em meus dias de meus tenros vinte e poucos anos. Neste momento, escrevo interrompida pelas moscas que tenho que espantar a cada segundo, debaixo de uma árvore para ter um pouco de sombra nesse calor escaldante, do qual o único recurso para refrescar-me será um banho de caneca quando o sol baixar, ainda para aproveitar o pouco da luz do dia sem depender de uma lanterna para tal.

Mais tarde, após um jantar à base de lentilhas e carne de cabra, irei dormir em horas normalmente muito antes do habitual pois o gerador será desilgado em uma tenda, metida em uma barraquinha anti-mosquito anti-morcego anti-aranha anti-besouro anti-rato anti-cobra anti-escorpião anti-insetos-que-não-sei-o-nome.

Penso que esse longo acampamento logo vai acabar. Este ano de 2015 na verdade começou em 2008, quando uma garota já nem tão garota assim de sentimentos misturados deixava o Brasil com sua grande mala vermelha para começar uma viagem que passou por trinta novos países, conheceu centenas de pessoas, sendo que poucas, bem poucas mesmo realmente ficaram e quando parou para se ver, já não era mais a mesma. Hoje, ela pensa apenas que já é hora de voltar para casa.

Enquanto aqui estou entre moscas e os chinelos a pisar a terra, idealizo o apartamento que ainda não tenho, que vejam só, poderá enfim existir graças à noites quentes mal dormidas. Dentro dele, que também não terá como ser muito grande, terá que caber um pouco do que eu trouxe dessa história e, se ele for amplo o suficiente para acolher as tais poucas pessoas que ficaram, as que já existiam antes da viagem começar e as que eu ainda nem conheço mas, quem sabe, entrarão ali porque também entraram na minha vida, ele já será grande o bastante.

Que venha 2016! Acho que vamos nos dar muito bem!

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