Andei voando tanto, minhas raizes e eu, que há tempos não aterrizava
para passar por aqui. O fato é que desde a última vez, há cerca de um ano e
meio, meus vôos tem sido muito mais para dentro que para fora. Essas raizes,
por mais que eu as faça voar, um dia quiseram fincar-se em algum lugar mais
seu. E foi assim que, para tomar conta delas e de mim, desde que regressei em
março deste ano, resolvi que precisava ficar quieta.
No dia 1º. de Abril, apenas 12 dias depois de voltar para São Paulo, não
sem antes passar 3 dias em Paris numa espécie de fase de transição depois de
tanto tempo na África, mudei-me a trabalho para a Cidade Maravilhosa.
Não pretento aqui discutir a qualidade da pizza local, do sotaque que,
tendo a baía de Guanabara ao fundo, me faz sentir dentro de uma novela de uma certa
emissora de TV e nem fazer qualquer esforço que uma paulistana decente faria
para não render-se à beleza do Rio de Janeiro. Melhor dizendo, a zona sul do
Rio, dona dos pontos mais clicados da cidade por turistas, cartões postais e
recém-chegados como eu.
Como na canção Sampa, de Chateano Veloso (porque convenhamos, não
desgosto do artista, mas ele tem lá seus 5 minutos), não chegou a ser
necessariamente um dificil começo, mas estranhei o que não conhecia e se
buscava um lugar mais meu, neste caso a missão foi transforma-lo em meu.
Dar uma passeada no fim de semana e dar de cara com um marzão sem fim,
para alguém que por quatro décadas só via o mar durante viagem de férias era
como... estar de férias. Só que não.
Aluguei uma kitnete (ou conjugado na lingua local) de 25m2 num lugar que
parecia para mim estratégico. O menor lugar que já morei, o que não chega a ser
um problema quando há um mundo gigantesco quando se abre a porta. Como afinal
queria voltar a ter meus hábitos de antes de minhas andanças pelo mundo, morar
perto dos melhores cinema era o paraíso na terra. Não fossem as duas semanas do
Festival do Rio, nunca fui tão pouco ao cinema.
Assim como nunca andei tanto de bicicleta, nunca fui tanto à praia e
nunca tinha chegado em casa com os pés cobertos de areia. A retomada da leitura
mais constante é recente e desde maio estou voluntariamente aprisionada pela
novela das 9, embora conte com o fim dela para daqui um mês a fim de retomar
minha liberdade. Aulas de samba entraram na história para que eu me sentisse
menos estrangeira. Afinal, que me perdoe minha querida Vai-vai, que tanto
agitou minhas noites de quinta e domingo em meus dias de Bixiga, a terra do
samba é aqui. Ok, minha performance está longe de ser a melhor da minha turma,
mas talvez eu consiga convencer alguns amigos estrangeiros.
O fato é que, na tentativa de retomar às minhas origens, nunca me
transformei tanto. Naturalmente esses ultimos anos me proporcionaram muitas
mudanças e vivi coisas que, se eu tivesse tido mais momentos de inspiração,
teriam sido objeto de mais posts nesse humilde blog.
E assim, a Ponte Aérea entrou na minha vida. E me dou conta que essa
ponte liga aquele momento da minha vida antes do período de tantas viagens a
mundos tão diferentes do que eu tinha como meu à continuação de uma nova viagem.
E já que estamos nesse vai e volta, vou aproveitar para colocar volta e meia
uma dessas coisas que andei escrevendo há uns anos atras. E o primeiro é,
tirando a banheira, quase uma premonição escrita há quase 7 anos.
Minha casa não vai ter muitas
paredes.
Uma banheira talvez, para aquecer
noites frias
E refrescar noites quentes
Um balde de gelo com algo que nos
embriague
Gente na sala provando patês
Um canto vermelho, meu quarto
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