quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Religião, Política e Futebol

Estava aqui trocando de canal para saber o que acontecia depois da novela da Bicha Má que agora está boazinha. Como resolvi que não iria pagar para ficar parada na frente da TV, me contentei em comprar uma antena que capta os canais HD disponíveis. O resultado disso é meia dúzia de canais abertos. Acredito que graças a isso eu deva ter elevado consideravelmente, ainda que por alguns segundos, a audiencia de alguns canais que devem ser vistos apenas pela família do apresentador.
Num desses canais, cantava-se Noite Feliz (ai...) em alguma língua nórdica. Eu suspeito que as canções de natal foram inventadas por fabricantes de anti-depressivos. Me dão uma deprêeeeee do cão. Isso me fez lembrar dos últimos natais passados lá pelos confins da África. Pelas ruas, nada de papai-noel, enfeites (a não ser os levados pelos que vieram de outros cantos da terra), de corridas frenéticas aos shoppings, até porque isso não havia por onde eu estava. Por outro lado, a missa está garantida. Afinal, um bispo lá pelo século V, acho (não, não vou pesquisar no “gúgou”), determinou que a partir dali o dia 25 de dezembro seria o aniversário daquele moço cabeludo que há mais de dois mil anos lutava contra as injustiças sociais, pedia igualdade e respeito e que nos dias de hoje corria o risco de tomar spray de pimenta na cara. Bom, pensando bem, não foram menos bonzinhos com ele.
Quando me perguntavam por lá qual era minha religião, eu prontamente respondia: “No Brasil somos católicos”. Com essa, eu me safava de maiores questionamentos sobre os caminhos tortuosos que segui para hoje não seguir nenhuma religião. Por mais que inveje e cobice àqueles que encontram facilmente suporte e apoio em suas crenças e por mais que eu as respeite, eu mesma contemplo tudo à distancia. Claro, por ter crescido num país católico e ter estudado os primeiros anos do meu ensino fundamental (era primeiro grau no meu tempo, cof cof) em uma escola católica que me ensinou a rezar, me garantiu batizado e primeira comunhão, não pude evitar recentemente de fazer o sinal da cruz quando estava em um carro cujo motorista resolveu fazer um retorno em local para lá de indevido.
As estações de metrô de São Paulo, até um certo período, privilegiavam em sua maioria os símbolos católicos da região de cada uma para dar-lhes nome: Conceição e Saúde, pelas igrejas, Santa Cruz, Paraíso, São Joaquim, Sé, São Bento, Luz (também pela igreja), Santana, Jardim São Paulo, Santa Cecília, Belém, Sumaré (a igreja outra vez). As mais novas, com exceção da Consolação, é que passaram a ter nome de alguma outra referência e assim o metrô tornou-se mais laico. No Rio é tudo mais simples, dá-se o nome do bairro e ponto.
Embora mais laico, há alguns anos a influência de algum poderoso deu o nome de Corinthians-Itaquera a uma das estações de São Paulo. É aí que entra a política. Alguns anos depois, Barra Funda tornou-se Palmeiras-Barra Funda, Tietê ficou sendo Portuguesa- Tietê e a estação Imigrantes passou a chamar-se Santos – Imigrantes (embora o estádio da Vila Belmiro fique uns bons setenta quilômetros dali). O pessoal da Moooooca, que tem o Juventus como time do coração, contentou-se em mudar o nome da velha estação Brás para Brás-Mooca, já que a Mooca é uma nação à parte e representa por si só tudo o que faz parte dela. E assim, o metrô de São Paulo deixou a igreja para entrar nos estádios.
Mas por quê ficar falando do metrô de São Paulo? É que logo mais estou lá para passar o Natal, ainda não comprei presente para ninguém, vai ser aquela correria nas ruas e nas lojas, o metrô vai estar lotado com todos os seus santos e pagãos. Tudo isso para depois contar os dias para o ano da Copa do Mundo em nossa pátria amada, idolatrada, salve salve.
Não há cristo que aguente! Amém.

Entre as estações República e Anhangabaú. Sob a terra.
Quando eu sair do lado de lá, pouca coisa nova.
Mas tenho me sentido bem nesses 2 dias de refúgio.
Os dias quentes e ensolarados no meio do inverno
ajudam a garantir o astral.
Sé, preciso descer
(12/08/2006)

Nenhum comentário: